Canal Q apresenta grelha que vive no horário nobre e no VOD
Trata-se da primeira produtora de conteúdos portuguesa que cria o seu próprio canal de televisão, é um canal com horário nobre total – opera das 21h45 às 24h e tem todo um outro ciclo de vida no vídeo-on-demand gratuito no Meo – e agrega jornalistas, criativos e apresentadores que querem, como diz o chefe de redacção do Q, Luís Gouveia Monteiro, “criar públicos” e “construir uma gramática própria”.
A expectativa de Nuno Artur Silva, como disse ao PÚBLICO, é que os espectadores adiram tanto à versão tradicional, com hora marcada, quanto ao VOD. “Primeiro será sempre no horário nobre”, estima. O canal, que vai ter estreias semanais (dois programas) até ao final de Abril, quando a grelha ficará completa, “ainda não é um produto acabado”. “A lógica é de formatação em processo. Vamos fazê-lo aos olhos de todos”.
“Quando apostamos em conteúdos destes não pensamos em audiências, nem tão pouco sabemos como as iremos medir ainda, tendo em conta as características particulares do canal”, disse aos jornalistas Zeinal Bava, presidente executivo da Portugal Telecom. “São cerca de oito por cento os subscritores do Meo [505 mil] que por dia optam pelo VOD”.
E eis as primeiras caras do canal: Guta Moura Guedes, presidente da ExperimentaDesign, tem lugar cativo às segundas-feiras com o talk show Cidades Visíveis. O primeiro programa recebe o designer Henrique Cayatte e o arquitecto Manuel Salgado e falar-se-á de Lisboa. No futuro, e também no âmbito do protocolo que a Experimenta tem com as PF, o cruzamento de temas da bienal e suas actividades com o talk show “flexível” de Guta Moura Guedes será também uma realidade. Logo a seguir Q Café, rubrica de 15 minutos que junta duplas improváveis para conversas de café. E depois, a Rede, com os irmãos apresentadores Nuno e Ana Markl a servir, de segunda a sexta às 23h, magazine de cultura popular e entretenimento.
Na terça-feira, Fernanda Câncio e Enrique Pinto Coelho entrevistam figuras da política no sentido lato em Agora a Sério, à quarta Hugo Gonçalves (Portugal, meu amor, SIC Radical) e Patrícia Muller e falam das tais listas de que tanto gostamos em Ping Pong Top, às quintas Leonor Pinhão, José de Pina (Fogo Posto, Radical) e João Bonifácio falam de futebol com Sacanas sem Lei e Nuno Artur Silva faz o Mapa cultural e lusófono.
O fim-de-semana faz-se best-of de A Rede e, ao sábado, com Histórias Devidas, em que Aurélio Gomes transpõe uma experiência de rádio para contar histórias de pessoas e explorar memórias. No domingo, chega aquele que Nuno Artur Silva considera ser um dos futuros grandes humoristas do país, Salvador Martinha, que apresenta o talk-show humorístico Especial.
Entre as estreias futuras estão 15 minutos semanais de Rui Unas em Caça ao Cómico. Unas, prestes a estrear um talk show na SIC Radical e uma série de humor na RTP1, comentava que este canal “é o reflexo dos tempos, em que a relação com a TV já não a a mesma. É um canal 2010”. Guta Moura Guedes acrescenta que a lógica do VOD combate o “efémero” de alguma programação para os apressados espectadores de hoje. “É uma aproximação do conceito de Internet”, prossegue, e Zeinal Bava corrobora: o Q “preconiza tudo o que pode ser a TV do futuro”.
Para Zeinal Bava, o conceito de canais 24 horas é ultrapassado, dando o exemplo de que nos EUA, o efeito TiVo (aparelho de gravação com guia de programação actualizado) significa que entre 50 e 60 por cento dos espectadores vêem TV em diferido. Nuno Artur Silva diz que este “é o momento” para um canal com estas características e define o Q como “um canal de cultura contemporânea”, com o toque do entretenimento televisivo e articulação com site próprio no Sapo (onde as PF mantêm o canal PFTV).