Comerciantes dizem não poder esperar mais um ano pelas obras
Os lojistas apelam para que se iniciem de imediato as obras de reabilitação, caso contrário temem perder os clientes definitivamente
Os comerciantes do Mercado do Bolhão consideram insustentável a espera de pelo menos mais um ano para o início das obras de requalificação do edifício. Face ao anunciado após a assembleia municipal de 15 de Março pelo vereador do Urbanismo, Gonçalo Gonçalves, que afirmou que as obras de reabilitação começariam, "na melhor das hipóteses", no segundo semestre de 2011, a Plataforma de Intervenção Cívica (PIC) marcou para hoje uma vigília, na porta principal do mercado, contra o atraso das obras e para reforçar o apoio a uma gestão pública do mesmo.
"Nem que fossem apenas seis meses de espera. Seria demais", afirma a proprietária de uma peixaria, Sara Araújo. A lojista apela para que a requalificação do mercado seja iniciada de imediato, antes que os clientes "desapareçam de vez". O estado degradado do interior do edifício é, para Sara Araújo, um dos factores que contribuem para que algumas pessoas, nomeadamente turistas, evitem a entrada no mercado. "Alguns ainda espreitam, mas depois acabam por sair quase de imediato", sustenta.
A juntar aos problemas de degradação e de salubridade, referidos pelos comerciantes, os pilares improvisados, montados pela câmara, na sequência dos estudos realizados pelo Laboratório Nacional de Engenharia Civil, em 2005, que alertavam para o perigo eminente de derrocada, representam para os lojistas outro empecilho para o seu negócio. "Quem cá entra, pensa que o edifício pode cair a qualquer momento", afirma uma das lojistas da ala sul do piso superior, Inês Guimarães.
Perante o relatório realizado em 2009 pela Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, que refere que o mercado apresenta "razoáveis condições estruturais" e que, por isso mesmo, não está em risco de ruir, Inês Guimarães questiona o facto de ainda não terem sido retiradas as estruturas metálicas do edifício. A comerciante, que se estabeleceu há cerca de 20 anos no Bolhão, afirma que quem não conhece o mercado se assusta com o "aparato montado". Os clientes que aqui vêm são apenas os habituais", explica. A única forma que diz ter encontrado para conseguir manter o negócio é não contratando qualquer funcionário.
Lojistas sem informação
A falta de esclarecimento por parte dos organismos responsáveis em relação ao projecto que será aprovado e elaborado até ao final deste ano causa alguma insegurança aos comerciantes, que desconhecem ainda se algumas bancas terão que ser encerradas. O atraso para o arranque das obras motiva também desconfiança entre os lojistas. Inês Guimarães diz-se pouco esperançosa e afirma que só quando começarem as obras é que acredita na reabilitação. Contudo, ainda duvida da sua permanência no mercado: "Não me interessa se será gerido por privados ou pela autarquia. Quero é que façam obras rápido e que todos continuemos aqui".
Entre as 17h00 e as 20h00 de hoje, a PIC pretende alertar os cidadãos para as condições de trabalho dos comerciantes. Segundo o representante da Plataforma, José Maria Silva, a PIC pretende realçar o atraso das obras e o formato de financiamento que a câmara quer aplicar. De acordo com o mesmo, a angariação dos 20 milhões de euros necessários para suportar o projecto, através da venda de acções do Mercado Abastecedor e da indemnização que a autarquia espera receber da TramCroNe, parece-lhe "irreal". A PIC defende ainda que o mercado seja gerido futuramente pela autarquia e não exclui que as próprias associações do mercado façam parte deste modelo.