Crianças com trissomia 21 desenvolvem problemas respiratórios mais graves

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12 a 15 mil com síndrome de Down

Estudo de médico holandês mostra que síndrome de Down é factor de risco para o vírus sincicial respiratório. Especialistas defendem que se aposte na prevenção

O nome do vírus é complicado: sincicial respiratório. Mas mais problemáticos ainda são os seus efeitos nas crianças potencialmente vulneráveis, isto é, os bebés prematuros ou com doenças crónicas, em especial do foro cardíaco. Dois grupos a que agora se juntam as crianças com trissomia 21, segundo o mais recente estudo do pediatra e investigador holandês Louis Bont. Apresentada esta semana em Portugal, para assinalar o Dia Mundial da Trissomia 21 que hoje se comemora, a investigação demonstra que a síndrome de Down é um factor de risco para as bronquiolites.

"Todas as crianças são infectadas com este vírus nos primeiros dois anos de vida, mas a maioria delas apenas fica com o nariz congestionado. Contudo, não nos podemos esquecer das que ficam com efeitos graves, em especial no trato respiratório inferior, o que provoca sibilâncias ou mesmo sintomas de asma", explicou, em entrevista ao PÚBLICO, Louis Bont.

Segundo o médico, o vírus sincicial respiratório apenas circula no Inverno e está associado à humidade, sendo "o primeiro ano de vida o mais complicado". Sobre as crianças com síndrome de Down, o estudo de Bont demonstrou que "têm um risco maior de desenvolverem uma forma mais grave da doença". Dez por cento dos doentes com trissomia 21 precisa de hospitalização com ventilação mecânica e um internamento médio de dez dias, quando a média geral não ultrapassa os três por cento e não chega aos cinco dias de internamento.

Bont defende que estas crianças - tal como já acontece para os bebés que nascem antes das 37 semanas ou que têm doenças pulmonares e cardíacas crónicas - deviam ter acesso a tratamentos de prevenção. "A profilaxia é muito cara e só os pais com mais possibilidades podem suportar valores que chegam aos cinco mil euros ano." O clínico lembra que o investimento do Governo teria "um grande retorno" com o dinheiro que pouparia em hospitalizações, na ausência laboral dos pais e nos problemas que as doenças respiratórias na primeira infância causam no futuro.

"Para os outros casos há um grupo de pressão. Infelizmente, as crianças com síndrome de Down, como são poucas e têm muitos problemas de saúde, ninguém se interessa por elas. O número sempre foi relativamente baixo e pouco interessante para as farmacêuticas", sublinhou Bont. Uma opinião partilhada por Miguel Palha, pediatra do Centro de Desenvolvimento Infantil Diferenças e antigo presidente da Associação Portuguesa de Portadores de Trissomia 21, actualmente dirigida pela sua filha Teresa, que tem síndrome de Down. "Não é tolerável atirar estas crianças para mortes de grande sofrimento e que se podiam evitar", insistiu Palha.

Em Portugal estima-se que existam 12 a 15 mil pessoas com trissomia 21, uma alteração genética que faz com que se nasça com três cromossomas 21 em vez de dois. Dados da Direcção-Geral da Saúde disponibilizados ao PÚBLICO mostram que o número de nascimentos de crianças com este problema está a baixar, o que se pode atribuir a um melhor diagnóstico pré-natal que leva a um aumento do número de interrupções voluntárias da gravidez. Na década de 1990, o Serviço Nacional de Saúde contabilizou cerca de 20 casos de síndrome de Down e em 2008 aconteceram apenas dois.

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