Reservas de ouro do Banco de Portugal ultrapassaram a fasquia dos dez mil milhões
Volume de reservas está inalterado nas 382,5 toneladas desde 2006, mas valorizou-se 70 por cento com subida da cotação
As reservas de ouro do Banco de Portugal (BdP) ultrapassaram pela primeira vez, em Fevereiro, a fasquia dos dez mil milhões de euros (10.082 milhões).
A escalada das cotações do ouro fez com que num ano (comparando com Fevereiro de 2009), o valor das 382,5 toneladas de ouro detidas pelo banco central se valorizasse 9,8 por cento (cerca de 900 milhões de euros), segundo revelou o Boletim Estatístico, divulgado na quinta-feira pela entidade supervisora. Há mais de três anos que o volume das reservas de ouro do BdP se mantém. A última venda, de vinte toneladas, ocorreu em Setembro de 2006, "com o objectivo de continuar a diversificação das reservas externas". Desde essa data, o valor do ouro à guarda do banco central já subiu cerca de 70 por cento.
Segundo os dados do World Gold Council (entidade que reúne as maiores companhias de mineração e compila regularmente dados sobre a evolução da procura e preços), Portugal é o 14.º país do mundo com a maior quantidade de ouro detida. Num momento particularmente difícil da economia portuguesa, faz ou não sentido utilizar os elevados rendimentos provenientes destes activos na consolidação das contas públicas? Em declarações ao PÚBLICO, Bagão Félix, ex-ministro das Finanças, afirmou que "esse deverá ser sempre o último recurso".
O antigo governante considera que "o país tem que fazer para as reservas de ouro o mesmo raciocínio que as famílias em dificuldades fazem em relação às suas jóias: são a última coisa a vender". Bagão Félix reconhece que esta é uma posição que "não é sustentada em grandes argumentos económicos", mas defende existir "um elemento psicológico e simbólico, uma determinada margem de segurança, que é preciso preservar".
Se Portugal alguma vez atingisse uma situação de pré-bancarrota, estas reservas poderiam ser usadas "como salvaguarda de uma situação-limite, como garantias de financiamento", por exemplo.
Para o ex-ministro, se alguma coisa trouxe a crise, foi "o regresso do aumento da confiança nos chamados activos reais" como as matérias-primas, em detrimento dos activos financeiros. Por isso, acredita que o ouro "será sempre um bom porto", mesmo que a cotação pare de subir.
O preço da onça-troy (medida de ouro que equivale a 31 gramas) encontra-se acima dos 1100 dólares e, segundo a maioria dos analistas contactados pela Bloomberg, poderá chegar este ano aos 1300 dólares. Ainda segundo a Bloomberg, a procura de ouro, incluindo barras e moedas, duplicou para 1,820 milhões de toneladas em 2009, com os investidores a procurarem refúgio da recessão global e a tentarem compensar a desvalorização do dólar.
Mas será a subida sustentável? O multimilionário George Soros acredita que não. Apesar de os seus veículos estarem entre os maiores investidores deste metal, Soros afirmou em Davos, em Janeiro, que "os juros baixos criam condições para o aparecimento de bolhas" especulativas e garantiu que o ouro será a próxima. Não se sabe quando rebentará, mas antes disso há analistas que acreditam que a cotação chegará aos dois mil dólares.