Governo já sabia que TGV entre Lisboa e o Porto estava atrasado

Foto
Governo defendeu que medida era para diminuir investimento público enric vives rubio

O adiamento de dois anos, anunciado pelo Governo como medida de contenção de custos, já era inevitável devido a derrapagem do projecto

O Governo, afinal, não adiou o TGV, apenas se limitou a anunciar um prazo mais realista para a inauguração da linha Lisboa-Porto. Esta estava prevista para 2015, mas atrasos no projecto iriam ditar a sua derrapagem para 2017. Ao anunciar este adiamento, o Governo evita assumir o atraso num projecto pelo qual se tem batido e aproveita para conceder terreno às críticas da oposição que exigiam a sua suspensão ou adiamento.

A medida, inscrita no Programa de Estabilidade e Crescimento (PEC) como contenção do investimento público, já era uma realidade que o Governo conhecia e que mais tarde ou mais cedo teria de ser anunciada, até porque a própria Rave, constatando o atraso no projecto, foi obrigada a fazer um replaneamento da sua execução, segundo o PÚBLICO apurou. Contactada a Rave e o Ministério das Obras Públicas, estes não responderam às questão colocadas pelo PÚBLICO.

Uma simples consulta ao site da Rave permite constatar o óbvio: o lançamento dos concursos para a linha Lisboa-Porto (dividida nos subtroços Lisboa-Pombal e Pombal-Porto) estava previsto para o primeiro semestre de 2009, mas estes não só não foram lançados, como nem sequer ainda existe a Declaração de Impacto Ambiental para a secção Pombal-Aveiro, imprescindível para avançar com o concurso.

O planeamento da Rave também prevê que a concepção e construção tivesse já início em 2011, o que se revela impossível tendo em conta que os concursos não foram ainda lançados e que esse processo demora dois anos. Impossível, por isso, ter a linha terminada em 2015, tal como foi anunciada por Durão Barroso na cimeira ibérica da Figueira da Foz, em 2003. Os Governos seguintes mantiveram estes prazos, mas o PEC trouxe a ocasião para o adaptar à realidade. De Espanha veio mais um "empurrão" para este adiamento. A linha Porto-Vigo, prevista para 2013, foi também adiada dois anos pela parte espanhola. No entanto, oficialmente, a justificação do Governo para a recalendarização é outra e vem no próprio PEC. O documento refere o "adiamento, por dois anos", das linhas Lisboa-Porto e Porto-Vigo "de forma a evitar o impacto financeiro até 2013". Uma decisão inserida nas medidas de diminuição de investimento público.

Em entrevista à Visão, o ministro António Mendonça já justificou, na quinta-feira, que "o adiamento dos dois troços de TGV tem a ver com critérios meramente objectivos, como seja o facto de nenhum desses dois projectos ter o concurso lançado (..) O adiamento resultou, portanto, de motivos de ordem prática e não estratégica".

Sugerir correcção