O segundo filme do chileno Pablo Larraín podia chamar-se "Raúl - Retrato de um Serial Killer", com a ressalva que este psicopata não mata por prazer nem por psicose mas por puro escapismo obsessivo: na Santiago do Chile de 1978, em plena repressão do regime de Pinochet, Raúl ignora por completo tudo o que se passa à sua volta para apenas encontrar conforto nos passos de dança de John Travolta em "Febre de Sábado à Noite" (1977). E a sua ambição nada mais é do que ser o "Tony Manero chileno", quer num palco a cair de podre numa cantina escondida da cidade, quer no seu próprio quarto trancado a sete chaves, quer num programa de televisão pobrezinho mas honrado - mesmo que isso implique matar todos aqueles que o travarem no seu caminho, pelas razões mais mesquinhas que se possam imaginar. "Tony Manero" é um pequeno pesadelo totalitário cristalizado a partir da urgência quase voyeurista da câmara de Pablo Larraín e da interpretação transfigurada de Alfredo Castro, é um olhar sem pudor de espécie de espécie nenhuma para o abismo mais fundo da escuridão humana. É um poderosíssimo murro no estômago.
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