Alice no País das Maravilhas

A certa altura nesta variação sobre os livros de Lewis Carroll, alguém diz que falta a Alice a sua "muiticidade". Podíamos dizer o mesmo do filme de Tim Burton - desde o sublime "Grande Peixe" (2003) que o cineasta entrou um pouco no "piloto automático" do "autor a fazer de si mesmo", mas pelo menos em "A Noiva Cadáver" (2005) ou "Sweeney Todd" (2007) sempre sentíamos o seu lado gótico-barroco-"grand-Guignol" à solta, um monstrozinho livre a brincar onde o deixavam. Aqui, nada disso - estruturado como uma "sequela" dos livros de Carroll, com Alice a voltar às "Sub Terras" à beira da idade adulta mas olvidada da sua visita original, "Alice no País das Maravilhas" oferece a Burton a oportunidade de uma vida de espraiar o seu imaginário rococó. Mas é um "presente envenenado", espartilhando as suas imagens numa narrativa domesticada e previsível que, conjugada com as necessidades tecnológicas da pós-produção e do 3D (que, aqui, não adianta absolutamente nada), dá pouco espaço para Burton soltar o monstrozinho que há em si. "Alice no País das Maravilhas" é Tim Burton contado às criancinhas e neutralizado e, francamente, isso dispensava-se.

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