ETA tem mais casas de apoio em Portugal

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Casa de Óbidos onde foram encontradas centenas de quilos de explosivos luis manso

Andoni Zengotitabengoa Fernandez, um dos operacionais da "fábrica" de bombas de Óbidos, foi detido no aeroporto de Lisboa quando se preparava para viajar para a Venezuela

A detenção de um elemento da ETA no aeroporto de Lisboa, na noite de quinta-feira, confirma as mais recentes suspeitas das polícias portuguesa e espanhola: o grupo terrorista basco está definitivamente instalado em Portugal. Andoni Zengotitabengoa Fernandez foi detido pelo Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), quando pretendia embarcar num voo da TAP, com destino a Caracas, Venezuela, com um passaporte falso.

Fontes policiais contactadas pelo PÚBLICO admitem que Andoni (um dos suspeitos que conseguiram fugir quando da operação que, a 12 de Fevereiro, levou à descoberta de centenas de quilos de explosivos numa casa alugada nas imediações de Óbidos) nunca tenha chegado a sair do país, o que significa que teria usufruído de auxílio durante o mês em que se escondeu. A existência de outras casas de apoio em Portugal é uma hipótese que agora ganha maior consistência e cuja investigação está agora a ser reforçada pela Unidade Nacional de Combate ao Terrorismo (UNCT) da PJ que, por sua vez, tem vindo a trocar, diariamente, informações com as autoridades espanholas.

A aparente movimentação contínua de membros da ETA por Portugal é ainda justificada com diversas operações policiais desencadeadas no País Basco espanhol e francês, as quais já resultaram na detenção de diversos suspeitos. O "apertar do laço" em Espanha e em França (recentemente o ministro do Interior espanhol, Alfredo Rubacalba, afirmou que a ETA está a definhar) estará a atirar grupos de operacionais para Portugal, onde até as hipóteses de fuga para outros destinos eram, até agora, tidas como mais seguras e viáveis.

"Temos de admitir a probabilidade da existência de outras bases", afirmou, em 23 de Fevereiro, em Madrid, Mário Mendes, secretário-geral do Sistema de Segurança Interna. A opinião de Mendes foi secundada pelo seu homólogo espanhol, o secretário de Estado António Camacho.

Esta convicção deriva também do resultado das investigações da justiça. Segundo o auto do juiz Baltazar Garzón, de 27 de Julho de 2008, Garikoitz Azpiazu ("Txeroki"), chefe da ETA entre 2003 e Novembro de 2008, encomendou uma missão a Arkaitz Goicoechea e Jurdan Martitegi: realizarem um estudo para instalação de possíveis infra-estruturas em Portugal para estabelecer uma base permanente de actuação. Garzón confirmou a deslocação dos dois etarras "à zona de Lisboa onde alugaram residências, roubaram documentação e veículos, e prepararam matrículas falsas".

MAI garante segurança

Mas em Portugal admite-se ainda uma segunda hipótese: a de que o suspeito agora detido no aeroporto tivesse chegado recentemente ao país (supostamente proveniente de Espanha). Esse facto, a confirmar-se, pode indiciar que o reforço do controlo fronteiriço não produziu os efeitos necessários e, ao mesmo tempo, pode indiciar que os elementos da organização terrorista se sentem à vontade nas viagens entre os dois países.

Desde a operação de Óbidos que as diversas polícias portuguesas e espanholas têm reforçado o controlo fronteiriço. Nos aeroportos nacionais, por exemplo, todos os cidadãos espanhóis passaram a ser alvo de vigilância muito mais rigorosa. Além disso, o SEF tem ao seu dispor um equipamento que permite aos seus inspectores detectarem qualquer documento de identidade falso, por muito elaborada que tenha sido a contrafacção. No caso de Andoni, o passaporte adulterado (substituição da fotografia) nem necessitou de grandes peritagens. Andoni, que irá ser defendido por José Galamba, o mesmo advogado que representa os dois etarras detidos em Janeiro, em Torre de Moncorvo, tinha ainda consigo um suporte informático contendo material propagandístico da ETA.

O detido esteve até meio da tarde de ontem na zona prisional anexa à Directoria de Lisboa da PJ, sendo posteriormente conduzido para interrogatório no Tribunal Central de Investigação Criminal, que aplicou como medida de coacção a prisão preventiva. Contra o suspeito pende um mandado de detenção europeu a pedido de Espanha. O ministro da Administração Interna, Rui Pereira, também já reagiu à detenção de Andoni no aeroporto de Lisboa. Segundo este responsável, "esta detenção prova mais uma vez a eficácia e a competência do sistema de segurança português, que no espaço de poucos meses procedeu à terceira captura de um elemento suspeito de conexões com uma organização terrorista".

Rui Pereira aproveitou a ocasião para elogiar o sistema de detecção de documentos falsificados desenvolvido pelo SEF, o qual se encontra entre os melhores do género em utilização em todo o mundo.

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