Chapeleiro Louco/Johnny Depp
Quando leu o "Alice no País das Maravilhas", Johnny Depp ficou intrigado com "pequenas coisas crípticas". Por exemplo, no Chá Maluco as personagens estão fascinadas por "coisas que começam com a letra M". "No livro nunca há uma resposta para isso", constatou. Foi quando começou a investigar sobre os chapeleiros na Inglaterra vitoriana que descobriu uma ligação que para ele fez sentido: para fazerem os seus chapéus, os chapeleiros usavam uma cola que continha mercúrio (daí o M) e que os envenenava lentamente e lhes dava um tom alaranjado. Foi a partir daí que compôs a personagem: o cabelo cor-de-laranja, as manchas alaranjadas nos dedos, o ar alucinado (os olhos, com lentes verdes, são aumentados artificialmente). Depp e Burton queriam que o Chapeleiro fosse alguém com as emoções à flor da pele, e por isso todas as suas (súbitas) mudanças de humor manifestam-se em todo o corpo, no rosto, na roupa, na voz (quando fica zangado ganha um inquietante sotaque escocês).
Alice/Mia Wasikowska
"Alice é uma figura tão icónica que quando dizemos o nome dela na cabeça da maioria das pessoas surge esta imagem de uma rapariga loura de vestido azul", conta Mia Wasikowska, a australiana de 20 anos que Tim Burton escolheu para o papel por achar que havia nela "uma certa calma". "Quisemos retirar-lhe essa carga icónica e encontrar uma Alice adolescente com a qual as pessoas se pudessem relacionar", explica Mia. "Ela está a enfrentar o mesmo que muitas raparigas da idade dela". Sente-se "desconfortável na sua pele" e com "a sociedade a que pertence". Sem maquilhagem e sem distorções, Alice é a mais "natural" de todas as personagens. Mia confessa que tinha inveja dos colegas que eram ajudados pelos efeitos especiais. Mas estava demasiado ocupada a perceber em que cenas era minúscula e em que cenas era gigante para se preocupar com isso.
Rainha Vermelha/Helena Bonham Carter
"É sempre engraçado ser rainha, conseguirmos tudo o que queremos e sermos pagos para nos portarmos como uma criança mimada". É assim que Helena Bonham Carter resume o papel que o marido, Tim Burton, lhe atribuiu "obviamente" (segundo ele). Ela fica preocupada por ter sido escolha tão óbvia - tal como fica preocupada quando os filhos a reconhecem imediatamente ("mamã, mamã", gritam quando a vêem vestida de Rainha Vermelha), apesar de a personagem, ao contrário dela, ter uma cabeça desmedidamente grande e um temperamento irascível. Será afinal Helena mais parecida com a Rainha Vermelha do que imaginava? Quando está em cena tem basicamente que gritar - "Cortem-lhe a cabeça!" é o seu grito favorito - e isso fê-la perder a voz. Confessa que a igualmente colérica Rainha de Copas do filme original da Disney não foi fonte de inspiração. O que Burton a aconselhou a ver, e que a inspirou, foi o retrato que Bette Davies fez de Isabel I em "A Rainha Virgem", e "Mommie Dearest", a (pouco simpática) biografia de Joan Crawford feita pela filha adoptiva desta. E, claro, "crianças mimadas".
Rainha Branca/Anne Hathaway
A actriz tinha uma ideia muito clara do que queria que a sua personagem fosse: uma "punk-rock pacifista vegan", inspirada em parte em Blondie. A Rainha Branca é boa, mas não totalmente - afinal não vem dos mesmos genes que a irmã, a Rainha Vermelha? "No País das Maravilhas ninguém é inteiramente bom ou mau e acho isso fantástico. Há gradações em todas as personagens". Numa das cenas uma mosca voa em frente da cara da Rainha Branca e ela afasta-a gentilmente. "Nunca poderia fazer mal a uma criatura viva", diz. Foi daí que Hathaway tirou a ideia dela ser vegan. Mas, no fundo, acha que ela tinha vontade de matar a mosca, e que todo o seu espírito zen é resultado de um esforço sobre a sua própria natureza. "Vi muitos filmes mudos da Greta Garbo porque a minha personagem tem que se expressar muito por reacções", revela. Um dia experimentou levantar as mãos, porque não as queria pousadas no colo como é habitual fazer-se com vestidos vitorianos. "Nunca mais as baixei". Por isso a sua Rainha move-se como se flutuasse, e agita as mãos no ar "como se estivesse constantemente a fazer poções e a lançar feitiços".
Tweedledee/Tweedledum/Matt Lucas
São os dois quase esféricos irmãos gémeos que falam numa linguagem que só faz sentido para eles. Com um corpo digital, os dois têm (em parte) o rosto do actor britânico Matt Lucas (da série "Little Britain"). Lucas diz que os imaginou como "duas crianças vitorianas mal comportadas, com a mão metida no pote do mel".