Lone Scherfig é uma cineasta dinamarquesa que veio do - ou passou pelo - famigerado Dogma 95, contexto em que assinou uma comediazinha inócua, "Italiano para Principiantes", bem compensada na bilheteira e no circuito dos festivais. Depois passou pela Escócia - em "Wilbur quer Matar-se" - e aportou agora a Londres para "Uma Outra Educação". Na Dinamarca sê dinamarquesa, em Londres sê londrina: se isto não é o credo profissional de Scherfig podia bem ser, a julgar pela maneira como da austeridade do Dogma 95 é capaz de passar ao academismo sorumbático do "english way", e continuar a cair no goto ("Uma Outra Educação" é um dos dez candidatos a melhor filme nos Óscares).
Que "outra educação" é esta? Em primeiro lugar, e muito objectivamente, a da jornalista inglesa Lynn Barber, em cujas memórias o argumento (escrito por Nick Hornby) se baseia. Em segundo lugar, e mais subjectivamente, é a "educação pela vida", posta em confronto com a "educação pela escola". A protagonista (Carey Mulligan) é uma adolescente, estudante brilhante oriunda de uma família de classe média suburbana e mesquinha, que sonha com Oxford. Mais pelo que Oxford lhe garante - para mais no contexto conservador da Inglaterra de princípios de 60 - do que pelo que Oxford é. E por isso, se lhe aparece ao caminho um atalho que dispense o desvio pela universidade para chegar ao sítio desejado - Londres, as luzes da cidade, os clubes de jazz, os saraus de literatura e de pintura, a companhia dos "dandies" - é natural que a rapariga hesite. "Uma Outra Educação" é a história desta hesitação, personificada pelo romance entre a adolescente e um homem mais velho (Peter Sarsgaard), sedutor bem relacionado que lhe pode oferecer - já - tudo o que Oxford - um dia - talvez lhe ofereça.
Entre o casamento como opção transgressora e o estudo como opção ajuizada o filme balança um pouco as convencionais noções de "progressismo" e "conservadorismo". Mas "non troppo". Para desfazer a confusão e garantir a exemplaridade da mensagem - bem como a sua legibilidade - o filme tem que arrasar uma personagem (a de Sarsgaard) em duas penadas, o que é imperdoável. A "outra educação", que não chega a ser "sentimental", é sobretudo moralista: Oxford é que os "outros" esperam, e os "outros" é que têm razão.
Bem escrito e bem interpretado (para além dos citados: Alfred Molina, Olívia Williams, Emma Thompson como reitora-bruxa má), plausível na reconstituição de uma Londres ainda não "swinging", dirigida com competência arrumadinha mas sem chama nenhuma, "Uma Outra Educação" é uma fábulazinha realista, didáctica e bem intencionada, mas incapaz de gerir a ambiguidade da sua narrativa, preferindo-lhe - sem nenhuma espécie de sombra fatalista - a simplicidade das coisas que são, moral e socialmente, correctas e "aceitáveis".