Bobby Cassidy, pugilista irlandês do subúrbio nova-iorquino de Levittown, é daquelas personagens que parece saída de uma certa literatura ou de um certo cinema americano incisivo e realista, que exala a poesia que muitos vêem no homem comum ou que leva outros a definir o boxe como "a doce ciência". Podia ser uma personagem de cinema - o Terry Malloy de Brando em "Há Lodo no Cais" aos 60 anos - e é nesse limbo duma vida real que parece saída das páginas de um guião ou de um livro, mistura de "Toiro Enraivecido" e "Os Sopranos" (com um pugilista traumatizado pela sua falta de educação às mãos de uma mãe alcoólica e de um padrasto violento, que deu aos dois filhos a infância feliz que ele nunca teve) que Bruno de Almeida instala o seu documentário, organizado em dez assaltos e pontuado por imagens de época cedidas pela família. E rapidamente se percebe que o que atraiu Almeida foi a possibilidade de ter Cassidy, contador de histórias nato, a discorrer em frente à câmara, evocando a família, o amor do boxe, os episódios caricatos, os mentores, as experiências mafiosas e as aulas de teatro. "Bobby Cassidy, Counterpuncher" é honesto nesse fascínio por um personagem que invoca uma certa cinefilia dos anos 1970, equivale a uma tarde bem passada com um grande contador de histórias - mas não levamos para fora dele mais do que a sensação de visita a um vencido da vida que a ganhou de maneiras que só o tempo se encarrega de explicar.
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