Laura Chinchilla A discípula do Presidente quer governar à sua maneira

Foto
Laura Chinchilla durante o discurso de vitória nas eleições de 7 de Fevereiro YURI CORTEZ/AFP

O lema da sua campanha foi "Adelante" e os eleitores deram-lhe os votos para que seguisse em frente. Chinchilla dedicou a carreira à política e agora será a primeira mulher na presidência da Costa Rica. Tem como herança o apoio de Óscar Arias mas promete deixar a sua marca

Óscar Arias tinha confessado que gostava de ver uma mulher na presidência, mas agora esse sonho já tem data marcada. A 8 de Maio o Presidente da Costa Rica passará o testemunho a Laura Chinchilla, que foivice-presidente do seu Governo e ganhou as eleições de 7 de Fevereiro com 47 por cento dos votos. Politóloga de formação, liberal em questões económicas e conservadora nos assuntos sociais, ela vai querer que a Costa Rica continue a ser um modelo de estabilidade na América Central.

Depois de saber que tinha ganho as eleições, Chinchilla agradeceu aos milhares de eleitores que a escolheram para ser a primeira mulher a chegar à presidência do seu país. Depois prometeu não atraiçoar a confiança dos apoiantes. Ser a discípula do Presidente Óscar Arias, que venceu o Nobel da Paz em 1987 pelo seu papel de mediador nos conflitos na América Central, criou-lhe condições para chegar à presidência. Mas não será fácil ser comparada a um dos homens mais prestigiados daquela região do globo e a oposição não hesitou em qualificá-la durante a campanha como uma "marioneta" de Arias.

Seja como for, Laura Chinchilla venceu por larga margem o seu adversário de centro-esquerda, Otton Solis, que obteve 25 por cento dos votos, e o de direita, Otto Guevara, com 21 por cento. Candidata pelo Partido da Libertação Nacional, de centro-direita, focou toda a campanha nas questões da segurança, defendeu a necessidade de criar novos acordos de comércio livre para continuar o desenvolvimento económico dos últimos 27 anos - que só foi interrompido pela recessão causada pela crise de 2009 - e defendeu posições contra o aborto e o casamento entre homossexuais. Ganhou, sem precisar de uma segunda volta, e agora ficará à frente deste país sem Exército, com 4,6 milhões de habitantes.

Presidente da continuidade

A política não lhe é, de todo, um lugar estranho. Foi Ciência Política que estudou na Universidade da Costa Rica, vindo depois a fazer um mestrado em Políticas Públicas e Segurança na Universidade de Georgetown, nos Estados Unidos. Regressa à Costa Rica em 1989 e cinco anos depois assume o cargo de vice-ministra para a Segurança Pública do Governo de José Maria Figueres. "Passava revista aos oficiais da polícia com a sua voz dura, caminhando de cá para lá com um vestido de pré-mamã que deixava ver a gravidez de cinco meses e a vontade de desafiar os esquemas machistas", descreveu o diário espanhol El País. Quem estava para nascer era José Maria, hoje com 13 anos, o único filho de Chinchilla e do seu segundo marido, o advogado espanhol José Maria Rico.

Nessa altura não se previa até onde iria a sua determinação, e talvez nem ela acreditasse que viria a ser a primeira mulher na presidência da Costa Rica. Em 2002 é eleita deputada do Congresso, cargo que ocupa até 2006, quando Óscar Arias a escolhe para vice-presidente e ministra da Justiça. Renunciou ao cargo em 2008, para se preparar para estas eleições.

Um dos principais desafios do seu Governo será agora estabelecer alianças com os partidos da oposição, uma vez que não foi alcançada uma maioria no Congresso composto por 57 membros.

"Laura Chinchilla representa a continuidade, poderá haver surpresas mas em princípio não haverá mudanças significativas",diz ao P2 Andrés Malamud, investigador do Instituto de Ciências Sociais em Lisboa e especialista em questões da América Latina. É verdade que, durante a campanha, a Presidente eleita reiterou as suas posições conservadoras em relação a questões sociais como o casamento entre homossexuais e o aborto, mas nem isso deverá significar uma forte mudança de políticas. "A Constituição da Costa Rica estabelece uma religião oficial e a pílula está proibida. Arias quis mudar isso mas não conseguiu, por isso o mais provável é que tudo continue na mesma", adianta Malamud.

A Presidente eleita deverá continuar a estratégia de desenvolvimento económico do seu antecessor, muito centrada na exportação de fruta e café, mas também de microchips. "Isso é prioritário para nós", disse à Reuters numa entrevista pouco após a vitória nas eleições.

Negociar com o mundo

Durante a campanha Chinchilla defendeu também que uma das prioridades do seu Governo será estabelecer acordos comerciaiscom a União Europeia e a China. "O modelo é o chileno: relações regionais boas, mas autónomas, e acordos de comércio livre com todo o mundo", adianta Malamud. "Quanto à China, Arias já tinha mudado o reconhecimento diplomático de Taiwan e isso irá manter-se." A Costa Rica passou recentemente a reconhecer a soberania da China sobre a antiga Formosa, o que rendeu ao Governo várias críticas da oposição.

Aos 50 anos, Laura Chinchilla junta-se agora ao pequeno grupo de quatro mulheres que chegaram à Presidência de um país na América Latina: Violeta Chamorro na Nicarágua (1990 a 1997), Mireya Moscoso no Panamá (1999 a 2004), Michelle Bachelet no Chile (2006 a 2010) e Cristina Kirchner na Argentina (2007 a 2011). Mas ao contrário de Mireya Moscoso, viúva de um antigo Presidente, ou de Kirchner, mulher do anterior Presidente Néstor Kirchner, Chinchilla não teve laços familiares que a pusessem nos patamares mais altos do combate político. Chegou pelos seus meios e agora garante que o Governo que aí vem será o seu, e não um novo Governo de Arias.

Sugerir correcção