Morte de Alexander McQueen deixa vazio de liderança na moda
Possível suicídio do criador britânico, ligado à imagem de Lady GaGa ou Björk, gera elogios à obra inovadora e génio do outrora chamado "hooligan da moda britânica"
O criador de moda britânico Alexander McQueen foi ontem encontrado morto em sua casa, em Londres, aos 40 anos e a menos de um mês de apresentar uma nova colecção na Semana de Moda de Paris. Um dos maiores valores da moda mundial, emergiu como "o hooligan da moda inglesa" pelo seu cabelo rapado e botas militares, um bad boy que a indústria tanto adora promover.
Era o "principal guia" da moda mundial, diz a docente e directora da Associação ModaLisboa, Eduarda Abbondanza. Tinha "uma imaginação sem limites" que influenciava o que as mulheres usam em todo o mundo, diz a editora da Vogue britânica, Alexandra Shulman.
Não é preciso ser seguidor da moda para conhecer Alexander McQueen. Se viu Lady GaGa, viu McQueen. Se viu Björk com o seu quimono no disco Homogenic, viu McQueen. McQueen vestiu estas estrelas e ajudou a criar a sua imagem, enquanto elas, entre muitos outros que usaram as suas roupas, alimentam a marca que o criador deixou na cultura actual. Fez a transição de um trabalho inicial de enfant-terrible alternativo ao luxo para uma obra, já em Paris, marcada pelo comentário social sobre a sua indústria e pela irreverência - quando ocupou a direcção da histórica Givenchy em 1996, considerou o fundador, Hubert de Givenchy, "irrelevante".
As circunstâncias da morte estavam ainda por apurar à hora de fecho desta edição, mas alguns media referem que o criador se terá suicidado, afectado pela morte da mãe no dia 2 e já desgastado pelo suicídio da sua mentora, Isabella Blow, em 2007.
Ontem a sua conta no Twitter tinha sido apagada, mas os media recuperaram as suas mensagens mais recentes: "A vida tem de continuar", escreveu após a morte da mãe; "Uma semana horrível, mas os meus amigos têm sido óptimos. Agora tenho de arranjar maneira de me reerguer", dizia dias depois.
Estagiário nas alfaiatarias de Saville Row, em Londres, assistente de Romeo Gigli em Milão, McQueen deixou a escola aos 16 anos e voltou tarde ao ensino. Terminou o mestrado na prestigiada Central Saint Martins College of Art & Design em 1994 com grande sucesso. Depois da ida para a Givenchy, onde não foi unânime, foi dirigir a Gucci em 2001, e criou a sua própria marca no seio do Gucci Group - que, por seu turno, é um dos maiores grupos de luxo, o francês PPR, concorrente da Louis Vuitton-Moet Hennessy (que detém a Givenchy).
Os desfiles de 2009/2010 foram o costumeiro sucesso crítico e espectáculo visual, e estava a terminar a colecção para Paris. Não é certo o que sucederá às roupas já terminadas. O presidente do grupo PPR, François-Henri Pinault, disse ontem em comunicado, citado pela AFP, que McQueen era "um dos maiores criadores de moda da sua geração", "um génio por vezes provocador" e "visionário". Nada avançou sobre o futuro da casa McQueen e o desfile iminente.
Após da notícia da morte, sucederam-se as reacções. Algumas via Twitter, de celebridades que vestia, como Dita Von Teese ou Tyra Banks. Outras, como a de Karl Lagerfeld, designer e director criativo da Chanel, elogia a sua originalidade mas nota que "ele sempre teve um pouco de atracção pela morte, era um pouco desumanizado. Talvez, quem sabe, que, à força de tanto flirtar com a morte, a morte acabe por nos atrair". Outros criadores, como Vivienne Westwood e Matthew Williamson, comunicaram a sua tristeza. Kate Moss, que McQueen apoiou em 2005, após o escândalo do envolvimento da modelo com drogas, disse em comunicado estar "em choque" pela perda do "génio", "um líder que inspirava a moda mundial".
Todos tocam numa mesma tecla: a sua capacidade de inovação. "Nunca banal", diz Lagerfeld. "Fazia sempre algo de novo e hoje é muito difícil inovar", lembra o criador português Filipe Faísca. "O seu trabalho nas silhuetas, na volumetria, na sua construção", evoca Eduarda Abbondanza, eram os seus pontos fortes, aliados ao profundo trabalho com a tecnologia. Novos materiais, formas, "coragem", "futurismo", frisa. Faísca lamenta a perda "de uma referência" e admite sentir-se "um pouco órfão".
McQueen recebeu o prémio de designer de moda britânico do ano quatro vezes e em 2003 foi considerado o melhor designer de moda internacional pelo Council of Fashion Designers of America - uma das mais prestigiadas distinções da indústria.