Sabor e sofisticação na Foz do Douro

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Legenda Superior

O Restaurante Pedro Lemos é o mais recente exemplo de modernidade e alta cozinha a firmar-se no Porto, seguindo o princípio de que dar de comer a alguém é fazer uma pessoa feliz. José Augusto Moreira (texto) e Manuel Roberto (fotos) foram em busca dessa felicidade

É sabido que no Porto sempre se comeu bem. Restaurantes de cozinha farta e opulenta, de estilo burguês e tradicionalista, são até uma espécie de marca gastronómica da cidade, que, no que a tachos e fogões diz respeito, teimou em mostrar-se madrasta para com iniciativas mais ousadas e contemporâneas. As vanguardas não eram para a cozinha e projectos como o Porta Nobre ou o reconhecido Bull & Bear, com Miguel Castro e Silva, acabaram por ter vida efémera. Certamente por isso, nunca no Porto os exigentes críticos do famoso guia Michelin deixaram qualquer das suas ambicionadas estrelas e, com excepção dos grandes hotéis, os mais criativos, inovadores e audazes chefes de cozinha foram sendo frequentemente forçados a rumar a outras paragens para tratar da vida.

Embora recente, este é um cenário que parece ultrapassado e fazer já parte do passado. Há uma onda de modernidade que tem alastrado pela cidade, com projectos de grande qualidade e contemporaneidade que - e essa é a grande mudança - parecem ter definitivamente conquistado os portuenses.

E não parece ser coisa de moda ou passageira, já que casas como o Shis, Buhle ou Foz Velha, na zona marginal, ou o restaurante da Casa da Música e o Góshó, para os lados da Boavista, são espaços reconhecidos e consolidados pela clientela e encarnam na perfeição esse espírito de abertura aos novos conceitos. Também a recente abertura do Mesa, de Luís Américo, (também na Foz) ou a esperada inauguração do sofisticado D.O.P., de Rui Paula (na zona da Baixa/Ribeira), marcada para o início de Fevereiro, são a prova de que a alta cozinha conquistou definitivamente o seu espaço na cidade.

Tal como noutras áreas, também na restauração é hoje seguro que, a par da cidade burguesa e tradicionalista de sempre, há também um Porto da modernidade que emerge sobretudo das zonas da Boavista e Foz e se estende pela área ribeirinha. Exemplo disso é, precisamente, o Restaurante Pedro Lemos, que abriu portas em Novembro passado bem no coração da Foz Velha. Anunciando-se como um espaço que "concilia o conforto e o glamour e que apela ao convívio", Pedro Lemos promete uma cozinha "que não pretende o espectáculo" mas antes "com ligação ao povo e à nossa cultura" e fiel ao princípio de que "dar de comer a alguém é fazer uma pessoa feliz".

E assim fomos em busca dessa felicidade. A pé, já que o restaurante fica numa das características ruelas da encantadora Foz Velha, mas a dois passos do Passeio Alegre, onde o estacionamento não é muito problemático. Ambiente acolhedor e com evidente bom gosto - do mobiliário à decoração - com duas salas, uma no piso térreo e outra no primeiro (para fumadores), que esgotam todo o espaço da pequena moradia.

De entre as cerca de duas dezenas de propostas de pratos, com preços médios a rodar os 30 euros, procurou-se diversificar a escolha. Um "bacalhau de boas recordações sobre gelatina das bochechas e desfiado em ouriço com o seu aveludado, acompanhado das caras num caldo de poejos", que logo deu mostras do elevado padrão de cozinha. Nas entradas, seguiu-se uma sofisticada "casca de alheira com creme de coentros e ovo de codorniz no topo, sobre tomate suado acompanhado de pezinhos de porco" e uma arrebatadora "bochecha de bízaro guisada em verde tinto, de seu néctar os filhoses com cominhos e canela, leite creme com louro e limão, os rojões da região". Uma sinfonia de sabores que só mesmo os mais preparados podem orquestrar.

Nos pescados, o "peixe diabo com sauté de caranguejo" e a "corvina de anzol em tranche abafada num engaço de nabo amarelo, couve e castanha assada", a deixar evidentes as preocupações com os sabores da tradição. No que às carnes tocou, "vitela mirandesa em costela grelhada, gema de ovo de seis horas em fatia de pão tostada e todos [os legumes] do cozido", uma vez mais a rondar o genial, e especiosa tranche de "cabrito das terras altas, enrolado e assado, em altar de cenoura, couscous com hortelã aromatizado", igualmente com evidente apelo às mais agradáveis memórias gustativas. Chocolate negro de São Tomé associado a gelado de gengibre e torta de citrinos com mousse de mascarpone e pérolas de tapioca em infusão de toranja, deram igualmente mostras da criatividade e consistência culinária de tudo o que foi servido.

Há técnica, sofisticação e muita qualidade, mas o que sobressai é mesmo o equilíbrio e harmonia com que se manejam os mais genuínos sabores (e saberes) da tradição culinária e o marcado toque de especiarias, que revela uma cozinha de características étnicas. Internacional e do mundo nas técnicas, mas genuína e marcadamente portuguesa no resultado.

A carta de vinhos é cuidada e abrangente, a permitir todas as opções, mas também sensata no que a preços diz respeito, havendo sempre três a quatro opções para o serviço a copo. Organizada segundo as características dos vinhos (jovens, frescos, frutados, encorpados, com madeira, etc...), o que é sempre uma boa ajuda na hora da escolha, e a contrastar com a complexidade (escusada, dizemos nós) do menú, redigido num estilo barroco e quase só decifrável com o apoio do pessoal de serviço, que é solícito, competente e despido de formalismos incómodos.

Pedro Lemos, engenheiro por formação, mostra que a sua vocação era realmente outra e que não foi em vão o tempo que passou na companhia de outros chefes cozinheiros, como Miguel Castro Silva, Hélio Loureiro ou Aimée Baroyer, antes de ter aberto a cozinha do extravagante projecto da Quinta da Romaneira, no Douro. A cozinha, o espaço e o conceito são mais um exemplo de que a modernidade, com sofisticação e elevados padrões de qualidade, estão no Porto para ficar e que, mais dia, menos dia, hão-de obrigar os críticos da Michelin a chegar-se à foz do Douro.Restaurante Pedro Lemos

Rua Padre Luís Cabral, 974 ?(Foz Velha), Porto

Telefone: 220 115 986

Horário: de 2ª a 4ª, das 11h00 às 00h00; de 5ª a sábado das 11h00 às 01h00

Cartões: aceita

Encerra aos domingos

Estacionamento difícil

Restaurante Pedro Lemos

Rua Padre Luís Cabral, 974 ?(Foz Velha), Porto

Telefone: 220 115 986

Horário: de 2ª a 4ª, das 11h00 às 00h00; de 5ª a sábado das 11h00 às 01h00

Cartões: aceita

Encerra aos domingos

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