O distante senhor Duchovny e o irresistível escritor Moody
A entrevista não chegou a existir para o P2, mas David Duchovny respondeu à mesma a questões sobre Californication e o seu Hank Moody
A experiência revela-se complicada. Quase tão complicada como ser uma das mulheres de Californication, série que, ainda que não seja misógina, não é propriamente um exemplo de girl power. Para tentar fazer uma pergunta ao actor David Duchovny é preciso carregar no asterisco e no nº 1 do telefone mal o protagonista de Californication se cala. E esperar que, do outro lado, a máquina e a moderadora de uma entrevista colectiva por telefone nos permita chegar-lhe aos ouvidos estacionados em Los Angeles.
Mas não houve como fintar os insondáveis desígnios da máquina e mais de uma dezena de jornalistas que, mundo fora, convencem o telefone a ligar-se ao homem por detrás de Hank Moody, o escritor chocante, espantosamente calmo e irresistivelmente divertido de Californication, cuja 3ª temporada se estreia segunda-feira às 22h00 com episódio duplo no FX. De Portugal, nem uma questão para Duchovny - mas há respostas.
No dealbar da terceira temporada de uma série residente num universo que vai, discutivelmente, da reality TV de Jackass a Sexo e a Cidade, passando pela comédia sancionada por Judd Apatow, David Duchovny diz que o sexo não é o centro de uma série que já mostrou de tudo.
"A nossa agenda é a comédia e contar uma história, mas também os sentimentos. Somos um estranho híbrido de meia hora de uma série de comédia, sentimentos e estranheza", explica.
O actor, que também produz e realiza, alerta ainda: a actriz convidada desta época, Kathleen Turner, preenche um papel... "assustador".
Como é que mantêm o equilíbrio entre o factor choque e a história que estão a contar?
Penso que as pessoas voltam uma e outra vez à série por causa da relação nuclear entre Hank e Karen. E, em termos de coisas chocantes, acho que o motivo pelo qual conseguimos fazê-las é que nunca são apresentadas para causar choque profundo ou sério - sabemos que é uma comédia.
Interpretar Hank Moody ensinou-lhe algo sobre si?
Ensinou-me que as pessoas ficam sempre surpreendidas por eu ter piada e que isso vai acontecer-me até morrer. Mas não aprendo sobre mim mesmo. Aprendo sobre mim enquanto artista, como actor, produtor, realizador.
Tem noção de que Hank Moody o tornou o tipo mais cool do planeta? Mas como explica isto sendo ele um looser?
É interessante, não é? Mas sempre pensei no Hank como uma personagem que diz o que pensa e foi isso que me atraiu para o papel em primeiro lugar. Ele tem poder entre tantos mentirosos e ao mesmo tempo cumpre os nossos desejos: é um tipo que diz o que lhe passa pela cabeça, algo que queremos fazer muitas vezes mas não podemos porque seremos despedidos ou abandonados ou coisa assim.
Nos tempos que correm, acha que séries como Californication influenciam o discurso público?
Gosto que o Hank seja um tipo que diga o que pensa aos poderosos. O que se tem passado [nos EUA, com a explosão de Serena Williams e os apupos ao Presidente em plena sessão oficial] não é dizer o que se pensa a quem é mais poderoso, é simples má educação.
Que semelhanças tem com Hank?
Somos muito parecidos fisicamente, mas ele tem mais e melhor maquilhagem.