Associação do Bairro da Sé desanimadacom incumprimento da reabilitação
GABS escreveu a Rui Rio criticando a falta de estratégia para a requalificação do morro onde a cidade do Porto nasceu
"É assim que nos sentimos, enterrados, mas vivos, que é a pior das vidas." A frase consta de uma carta que o Grupo de Apoio do Bairro da Sé (GABS) escreveu no mês passado ao presidente da Câmara do Porto, Rui Rio, e sintetiza o espírito de desânimo que caracteriza o documento. A associação cívica - que há mais de trinta anos tenta ver melhoradas as condições de vida no bairro onde o Porto nasceu - considera que a expectativa gerada com a criação da Sociedade de Reabilitação Urbana (SRU) Porto Vivo não se cumpriu e que, por isso, a Sé continua a degradar-se.
"O Bairro da Sé deixou de estar na linha das preocupações prioritárias da cidade, assim como todo o seu centro histórico. Não há definição; não há ritmo de intervenção; não há projectos de curto, médio e longo prazo; não há um olhar global sequer sobre o que são e sempre foram as realidades deste bairro, e, por isso, tudo prolifera impunemente, sem estratégia", lê-se na carta.
Considerando que a Sé não ganhou nada com a extinção do Comissariado para a Reabilitação Urbana da Área da Ribeira-Barredo (CRUARB) e da Fundação para o Desenvolvimento da Zona Histórica, e a consequente substituição pela Porto Vivo, o GABS salienta que a diluição do bairro na Baixa do Porto levou apenas a que o apetite turístico-imobiliário promova alguma reabilitação nos edifícios da fachada voltada para a cidade monumental, deixando o miolo urbano da Sé entregue à desertificação. "Dezenas de prédios que pertencem ao erário público, ou pertenceram, continuam devolutos. Desta forma, centenas de pessoas que podiam revitalizar o centro histórico não o fazem", aponta a carta do GABS.
A associação critica ainda Rui Rio por não ter "mudado de agulha" quando, há quatro anos, foi alertado para as consequências previsíveis da diluição do bairro na área sob jurisdição da SRU, considerando, por isso, que o projecto do presidente de câmara para o bairro "faliu".