Évora e alumínio têm um passado com 17 anos

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A albufeira de Monte Novo recebe as escorrências da bacia de drenagem PÚBLICO

O "caso do alumínio" ficou marcado pela morte de 25 doentes da Unidade de Hemodiálise do Hospital Distrital de Évora. As análises realizadas em 1993 aos doentes de Évora revelaram altos teores de alumínio no sangue. A situação foi explicada pela má qualidade da água, justificada pelo então presidente da câmara Abílio Fernandes com a situação de seca que se vivia, e ainda pelo mau funcionamento dos filtros do sistema de osmose inversa instalado na estação de tratamento de águas do hospital, para retirar o excesso em alumínio.

Quando o alumínio se difunde no organismo em quantidades demasiado elevadas pode provocar a morte das células cerebrais, do coração, do fígado e induzir descalcificação óssea. Os doentes renais estão expostos à intoxicação através da água utilizada para a hemodiálise e sofrem com as quantidades de alumínio na água que bebem e na comida que ingerem. Nos indivíduos sãos, parte deste alumínio é eliminada através dos rins, precisamente aquilo que os doentes renais não conseguem fazer.

O caso ficou também para a memória por ter levado à demissão do então ministro do Ambiente, Carlos Borrego, por causa de uma anedota que contou aos microfones de uma rádio local, que sugeria que os alentejanos estariam a usar os cadáveres das pessoas falecidas para fazer reciclagem e aproveitar o alumínio.

O que se passa com Monte Novo?

Mas por que razão, ao fim de 17 anos, ouvimos falar novamente de alumínio em Évora? Manuela Morais, professora do Laboratório da Água da Universidade de Évora, explicou hoje ao PÚBLICO que a albufeira de Monte Novo tem metais acumulados no fundo, nomeadamente ferro, manganês e alumínio.

"À semelhança do que acontece em outras albufeiras da região, a seguir a períodos de chuva muito forte, as escorrências vindas da bacia de drenagem misturam as águas da albufeira e levam para a superfície os metais acumulados nos fundos". Antes do Natal, a região tem registado "um aumento brutal dos caudais" dos rios devido às fortes chuvas. "As águas das enxurradas transportam tudo o que está nas bacias de drenagem", incluindo substâncias resultantes da agricultura intensiva e de esgotos urbanos não tratados.

Em 1993, o caso foi o precisamente o contrário. "Por causa da seca, deu-se uma concentração de metais e nutrientes na água da albufeira", disse, lembrando que a qualidade da água é menor no fundo do que na superfície.

Mas não é só: "A própria geologia da região contribui para a acumulação e libertação desses metais na água".

"Tudo aqui no Alentejo é contra a qualidade da água: ou temos pouca ou temos chuvas torrenciais e enxurradas", salientou. "Agora, o importante é sabermos lidar com esta água e ter muito cuidado no seu tratamento", concluiu.

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