Descoberta a origem do cancro que está a dizimar o diabo da Tasmânia
Relatada pela primeira vez em 1996, a doença pôs em risco de extinção aquele que é hoje o maior marsupial carnívoro
Primeiro, não se percebia o que estava a matar o diabo da Tasmânia. Depois, percebeu-se que era um cancro surpreendente, que se transmite através das dentadas que os animais dão uns aos outros. Agora uma equipa descobriu quais as células que se tornam cancerosas, formando tumores grandes na cara e na boca e espalhando-se pelos órgãos internos.
Na edição de ontem, a revista Science relatou que o cancro começa, provavelmente, nas células de Schwann, que cobrem os prolongamentos dos neurónios, para os isolar electricamente. Num artigo assinado em primeiro lugar por Elizabeth Murchison, do Laboratório de Cold Spring Harbor (EUA) e da Universidade Nacional Australiana, em Camberra, a equipa relata os resultados da análise genética dos tumores. Recolheu amostras diferentes por toda a ilha e confirmou a suspeita de que os tumores são todos geneticamente idênticos. Ou seja, são cópias uns dos outros, o que significa que são todos originários da mesma linha de células.
O facto de este cancro ser transmissível, através de contactos físicos que transferem células vivas de um animal para outro, dá-lhe um carácter especial. Só se conhece outro cancro com esta forma de disseminação - e é nos cães, diz um comunicado do Laboratório de Cold Spring Harbor.
Os cientistas conseguiram identificar o conjunto de genes que entram em acção nas células e as levam até ao cancro. Compararam a assinatura genética do cancro com a das células normais e concluíram que coincide com a das células de Schwann, o que aponta para que seja aí que tudo começa. "[Mas] como é que estas células nervosas produzem cancro é um mistério", lê-se no comunicado.
Embora ainda sem testes de diagnóstico, tratamentos ou vacinas disponíveis, este trabalho permitiu identificar marcadores genéticos (pedacinhos de ADN) que podem ser usados para diagnosticar a doença de forma rigorosa. Poderá assim isolar-se os animais doentes, para combater a doença. "Os nossos resultados representam um grande passo em frente nesta corrida para salvar os diabos da extinção", disse Elizabeth Murchison.
Relatado pela primeira vez em 1996, este cancro pôs o diabo da Tasmânia, que é hoje o maior marsupial carnívoro, na lista das espécies em risco de extinção. Na última década, a sua população decresceu 60 por cento. Daqui a 25/35 anos, podem não existir, se continuarem a ser dizimados por este cancro.