Cerca de 200 sem-abrigo tiveram hoje um almoço de Natal oferecido
A CASA (Centro de Apoio aos Sem-Abrigo) é uma instituição que trabalha com sem-abrigo que solicitou apoio ao Metropolitano de Lisboa para promover esta iniciativa. “Entendemos que numa época festiva como em que estamos a melhor maneira de os apoiarmos seria com uma refeição quente e um ambiente acolhedor que eles normalmente não têm”, disse a directora de comunicação do Metropolitano de Lisboa, Helena Taborda.
Cerca de duzentos sem-abrigo, que pernoitam nas zonas de Santa Apolónia, Terreiro do Paço, Oriente e São Jorge de Arroios, compareceram ao almoço de Natal organizado pelas duas entidades, que decorreu na cantina do Metro de Lisboa, na Pontinha, em Lisboa. “Acho que é importante haver um momento de descontracção em que [os sem-abrigo] se sintam próximos uns dos outros e próximos de nós”, disse a coordenadora dos voluntários da CASA.
Ana Moreira começou a fazer voluntariado na instituição em 2007. Diz que nessa altura saía para distribuir refeições em Lisboa e 15 por noite eram suficientes, havendo mesmo ocasiões em que chegava ao final com sobras. Mas as coisas mudaram: “Neste momento, 250 refeições não são suficientes em Lisboa. Tem sido um número cada vez maior de pessoas que estão numa situação carenciada, não só sem-abrigo, mas também famílias a quem damos apoio”.
Mais dificuldades em 2009“Para além das pessoas que estão na rua damos também apoio a pessoas que têm casa, mas que não conseguem fazer face às despesas”, revelou Ana Moreira, especificando que se trata de idosos, reformados e desempregados recentes. “Desde o início de 2009 que notamos que existe um acréscimo de pessoas que vêm ter connosco à procura de ajuda”, acrescentou.
Elsa Mariano, que hoje se juntou a outros voluntários para servir as refeições no almoço oferecido aos sem-abrigo, celebra agora um ano de voluntariado na CASA. No Natal de 2008 resolveu olhar de frente uma realidade que a maioria prefere ignorar: “Acho que é de facto uma classe de pessoas completamente esquecida da sociedade. É uma realidade muito dura e portanto todos escolhemos não olhar”.
Ângelo Fernandes, sem-abrigo há “quatro ou cinco anos”, tem tentado reorganizar a vida, mas não tem tido sucesso na procura de um emprego que lhe permita sair das ruas. “Tenho andado a trabalhar aqui, ali e acolá, conforme posso. Agora estou desempregado. Fui para Espanha, estive lá um ano e meio, não me pagaram e foi a Santa Casa da Misericórdia que me deu ajuda. Agora, como já lá estava há muito tempo, mandaram-me embora. Durmo na rua em Santa Apolónia e tenho andado à procura de trabalho, mas até hoje não consegui”, contou.
Sobrevive com a ajuda que a CASA lhe oferece - refeições e alguma roupa -, mas anseia por mais. “Ando saturado. Eu queria trabalhar, porque isto não é vida para ninguém. Tenham pena de nós e dêem-nos qualquer coisa para fazer. Dá para a gente organizar as coisas noutro sentido. Assim não conseguimos”, desabafou.
Olga Antunes, presa a uma cadeira de rodas desde criança devido a uma paralisia, é sem-abrigo há cinco meses. Perdeu o tecto depois de se desentender com a filha: “Fez-me mal e eu com medo dela não voltei mais a casa. Quando fui a casa a porta já não abria. Pus-me a pedir. Quando arranjo para a pensão, durmo na pensão, quando não arranjo, durmo na rua”. No final do almoço, houve direito a uma prenda de Natal: roupa quente para os dias frios.