O filme de Polanski vai a Berlim, ele fica em casa

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"The Ghost Writer", o mais recente filme de Roman Polanski, vai estrear-se em Fevereiro no Festival Internacional de Cinema de Berlim, mas o realizador dificilmente poderá estar presente na sessão. Libertado sob fiança pelas autoridades suíças, Polanski mantém-se em prisão domiciliária na sua casa de Gstaad, impedido de franquear a porta da rua e controlado à distância por uma pulseira electrónica que lhe foi colocada no tornozelo.

Quando o cineasta foi preso em Setembro de 2009, no momento em que se preparava para receber um prémio de carreira atribuído pelo Festival de Cinema de Zurique, uma das instituições que o defendeu foi justamente o Festival de Berlim, que protestou contra "o tratamento arbitrário" imposto a "um dois mais notáveis realizadores do mundo".

Outro veemente defensor de Polanski tem sido o filósofo e escritor francês Bernard-Henri Lévy, que visitou recentemente o cineasta na sua casa de Gstaad. Num emotivo artigo divulgado no domingo pelo diário espanhol "El País", Léevy explica que Polanski não pode entreabrir uma janela ou uma cortina, por causa do "pelotão de fotógrafos que o espia permanentemente", e que se vê obrigado a "viver na obscuridade" com a mulher, a actriz Emmanuelle Seigner, e os dois filhos.

Lévy está, contudo, optimista, porque acha que a Suíça, após "ter estendido uma armadilha a Polanski e abusado da sua confiança", está a "dar-se conta do absurdo da situação". E argumenta que, na imprensa de Genebra ou Zurique, o cineasta "já não é exactamente o pária (...), o autor de crimes contra a humanidade que foi durante os primeiros dias [após a sua detenção], tanto na Suíça como nos Estados Unidos". Muitos jornalistas e editorialistas, diz Lévy, "começam a achar estranho que um homem que estava na Suíça como em sua casa e que, há décadas, passava lá o Inverno e as férias escolares, seja tratado, de um momento para o outro, como um terrorista ou um bandido".

Polanski passa os dias e as noites a trabalhar na finalização do seu filme, conta o intelectual francês, que pergunta: "É possível terminar um filme assim? Calibrar as cores à distância? Cortar uma imagem ou meio segundo de som pelo telefone? Pode trabalhar-se um céu, reenquadrar-se um sorriso ou um movimento, reescrever-se uma emoção, do fundo do cárcere?". E o próprio Lévy responde: "Sim, se se é Polanski". "The Ghost Writer", que rivalizará em Berlim com o último filme de Scorsese, "Shutter Island", baseia-se num romance de Robert Harris e conta a história de um escritor (Ewan McGregor) que é recrutado para ajudar um primeiro-ministro britânico (Pierce Brosnan), alegadamente envolvido em actividades ilegais, a escrever as suas memórias.

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