1 - Jochen Lempert
Trabalho de Campo
Culturgest
"Trabalho de Campo", com a curadoria de Miguel Wanschdneider, foi a primeira grande mostra do trabalho de Jochen Lempert (Moers, Alemanha, 1958) fora do seu país natal. E foi a mais intensa revelação de 2009. Porquê? Porque mostrou imagens que ainda sabem, ainda podem, oferecer um encantamento inteligente.
Tratou-se de uma exposição de fotografias de um artista formado em Biologia. Despidas de molduras, sobre papel, a preto e branco mostravam imagens da vida natural e animal. De aves, mas também de outros seres, de paisagens, sombras, silhuetas, luzes. Que nasciam de uma exploração do fazer fotográfico e chamavam pelo desenho, pelo maravilhoso, pela quietude nua da percepção. J.M.
2 -Bone Lonely
Paulo Nozolino
Galeria Quadrado Azul, Lisboa
Reuniu 32 imagens inéditas, em pequeno formato e realizadas entre 1976 e 2008. Nelas, tornava-se evidente o deserto em que vivemos - a catástrofe, segundo Giorgio Agamben. Imagens do tédio que nos distancia de qualquer experiência real, as obras apresentadas descreviam também a ruína do mundo. Captadas nos últimos trinta anos, as fotografias - reveladas num implacável preto-e-branco, agora sujo - eram lidas como uma única frase; uma linha onde se tornava visível o não dito, o abuso de poder, a usura. " O.F.
Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa
Uma sofisticada exposição antológica comissariada por Vincent Pomarède, director do departamento de pintura do Louvre. Seguiu o modelo habitual da instituição francesa: abordagem cronológica, atenção às anedotas biográficas e à correspondente produção pictórica. Um sucesso de público e crítica. Fantin-Latour, apesar de se ter mantido à margem dos movimentos artísticos do seu tempo, desenvolveu uma obra de grande qualidade, intimista, burguesa e poética. L.S.O.
4 - Anos 70 - Atravessar Fronteiras
Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão, LisboaComissariada pela historiadora de arte Raquel Henriques da Silva, apresentou-se como a sequência lógica de outras grandes revisões de décadas que, desde os anos 80, tem sido possível ver em Lisboa. Muito bem documentada e abrangente, confirmou a ideia que o público terá dessa década: um fervilhar criativo a par e passo com o que se passava noutros países, uma generosidade sem par no meio artístico, constante experimentação de técnicas e ideias. L.S.O.
5 - Atrás do vulcão e três pinturas semi-amestradas
Gil Heitor Cortesão
Galeria Pedro Cera, Lisboa
Lareiras & vulcões: o doméstico e o sublime encontram-se na pintura de Heitor Cortesão. Ambientes confortáveis, desenhados, são habitados por um desconforto de origem imprecisa; uma corrosão que tudo invade. Há uma lava que inunda cada recanto: um modernismo com a memória de Pompeia, desses corpos calcinados, testemunhos do inesperado. Aqui não existem figuras humanas, apenas vestígios, artefactos: aquilo que ficou esquecido depois do desastre. O.F.
6 - Arquivo Universal - a condição do documento e a utopia fotográfica moderna
Museu Berardo, Lisboa
Uma exposição grande, extensa, que propunha um itinerário do género documental na história da fotografia com filmes, publicações e fotografias de autores como Martha Rosler, Allan Sekula, Dan Graham, El Lissitsky, Dorothea Lange, Joris Ivens, Pasolini ou Margaret Mead. Uma selecção para lá das disciplinas, portanto. Arriscada? Excessiva? Sim, talvez, mas decididamente generosa e contemporânea. J. M.
7 - Sem Saída/ Ensaio Sobre o Optimismo
Augusto Alves da Silva
Museu de Arte Contemporânea de Serralves, Porto
O percurso expositivo tem como limites "Síntese",um exercício de selecção realizado a partir das séries anteriormente produzidas por Augusto Alves da Silva, e "Iberia", a projecção em grande formato de mais de cinco mil fotografias tiradas durante 18 dias, num percurso realizado de jipe em Espanha. Há ainda um sentimento de solidão que atravessa uma mostra com forte componente política, destacando-se os vídeos "Killing Time" (1999), "Montra" (2003), "What a Blast" (2002) e "Ugly" (2002), nos quais é incisiva a crítica à sociedade do espectáculo. Uma importante retrospectiva, comissariada por João Fernandes, que inclui ainda "book", um notável ensaio sobre a sobrevivência dos afectos. O.F.
8 - Ana Vidigal
Matar o Tempo
Galeria 111, LisboaConfirmou Vidigal como uma das mais interessantes artistas da sua geração. Tratou-se aqui de pintura, mas a acepção da palavra "pintura" é sempre vasta no entender da artista, podendo referir-se, em última análise, ao suporte bidimensional que é emoldurado, e não à técnica principal utilizada. Do mesmo modo, o título possuía uma ambiguidade evidente: "matar o tempo" referia-se à actividade de fazer paciências (todas as pinturas reproduziam, ampliando-a e modificando-a, uma paciência de jornal), mas também ao acompanhar de uma pessoa próxima em doença terminal. L.S.O.
9 - Projecto Teatral
Espaço Negócio, ZDB, LisboaUma ausência: o actor. Um palco que é um túmulo: lugar de silêncio. Prescinde-se do corpo, da voz, para dar a ver um volume moldado a terra e um entrançado em pano-cru. Podia falar-se de instalação, mas essa definição fica aquém do vivido entre dois limites: a vida e a morte. Evoca-se, sim, a inesgotável repetição de um texto pelo ponto, intérprete plural de todas as falas, sempre em cena, fora dela. Uma história que pode ter como origem as encostas da acrópole, em Atenas, a obra de Yves Klein, ou os retratos de Faium, sincretismo entre modos de fazer egípcios, gregos e romanos. Uma comunidade sem nome: a única política possível. O vazio do teatro. O.F.
10- Casa das Histórias
Paula Rego
Casa das Histórias, CascaisÉ um dos acontecimentos do ano: um excelente projecto de arquitectura, dignifica o trabalho de uma artista inquestionável e mostra em permanência a sua obra num contexto nacional que apenas permitia até agora a exposição pontual. A exposição temporária que abriu o novo museu, vinda da galeria londrina Marlborough, apresentou obras recentes em contexto mais amplo; e o acervo do museu revelou peças antigas notáveis e um núcleo importante de obra gráfica. L.S.O.