Os seis órgãos de Mafra voltam a soar em conjunto

Foto
O restauro dos órgãos da Basílica de Mafra ainda não está concluído dr

Os seis órgãos da Basílica de Mafra soarão esta noite, às 21h00, pela primeira vez em simultâneo desde o século XIX, mas desengane-se quem espera um programa integral com a participação maciça deste impressionante conjunto de instrumentos. Apenas uma das peças - a melodia de Natal Es ist ein Ros" ensprungen, de Michael Praetorius, num arranjo de João Vaz - terá a intervenção dos seis órgãos, as restantes destinam-se apenas a dois (com ou sem a intervenção das vozes do coro Voces Caelestes).

"Fazemos apenas uma peça a título experimental para as pessoas ficarem com uma ideia de como pode soar e para podermos ter a noção dos ajustes que ainda há a fazer", disse ao P2 o organista João Vaz.

Acontece que o restauro, iniciado em 1999 pelo mestre organeiro Dinarte Machado com o apoio do Ministério da Cultura e de mecenas privados, ainda não está completamente concluído. "Depois deste concerto, a basílica vai fechar até Maio para os trabalhos finais e nessa altura reabre com um concerto inaugural no qual os seis órgãos soarão em pleno num programa com repertório histórico e com a estreia de uma nova peça", acrescentou João Vaz.

Os instrumentos que chegaram até aos nossos dias (três órgãos construídos por António Xavier Machado e Cerveira e os outros três por Joaquim António Peres Fontanes) foram inaugurados entre 1806 e 1807, mas a maior parte das fontes históricas referem a existência ou a utilização de seis órgãos logo desde a sagração da basílica, em 1730. Nessa altura, tratava-se de órgãos positivos (três deles vindos de Roma), mas a ideia de vir a dotar a basílica com seis instrumentos fazia parte dos planos de D. João V desde o início.

Ao longo do século XVIII, vários autores portugueses e estrangeiros mencionam a existência de seis órgãos, mas a história dos instrumentos que antecederam o conjunto actual constitui um puzzle ao qual faltam ainda muitas peças.

O repertório para coro, solistas e vários órgãos (de dois a seis) que se guarda na biblioteca do próprio Convento de Mafra e na biblioteca do Paço Ducal de Viçosa data dos finais do século XVIII e inícios do século XIX, coincidindo com a época de conclusão dos órgãos sobreviventes e com as estadias cada vez mais regulares do príncipe regente (o futuro D. João VI) em Mafra. Compositores como João de Sousa Carvalho, José Joaquim dos Santos, Antonio Puzzi, João José Baldi, Luciano Xavier dos Santos, Fr. Bernardo José da Conceição, António Leal Moreira, Marcos Portugal e Fr. José Marques e Silva, entre outros, escreveram música original para os seis órgãos e foram realizados numerosos arranjos de obras já existentes, incluindo versões de sinfonias de Haydn.

Além da já referida peça a seis órgãos, o concerto desta noite inclui o Verso de 8.º tom para dois órgãos, de Francisco Olivares; Stille Nacht, de Joseph Mohr/Franz Xaver Gruber; a Fantasia KV 594 (a dois órgãos), de Mozart; o Te Deum para coro e dois órgãos, de Fr. José Marques e Silva; e o conhecido hino Adeste fideles num arranjo para vozes iguais e dois órgãos de João Vaz. São intérpretes os organistas João Vaz, Rui Paiva, António Duarte, António Esteireiro, Isabel Albergaria e Margarida Oliveira e o coro Voces Caelestes, sob a direcção de Sérgio Fontão.

Sugerir correcção