Cimpor: Uma década de instabilidade accionista
O processo de reprivatização iniciou-se em 1994 e em quatro anos, através de três tranches, foram alienados 90 por cento do capital, sem se obter uma estrutura accionista dominante. Em 2000/01, sem liderança assumida, Pedro Queiroz Pereira, aliado aos suíços da Holcim, avançou com uma oferta pública de aquisição (OPA) sobre a cimenteira. As duas empresas detinham, em partes iguais, cerca de 20 por cento do capital. Mas a operação foi mal recebida, essencialmente por se suspeitar que Pedro Queiroz Pereira cederia os seus interesses aos suíços.
Neste ambiente, e já com a Teixeira Duarte e o BCP no capital da empresa, o então ministro da Economia, Pina Moura, recusou-se a alterar a lei que impedia estrangeiros de deter mais de 10 por cento no capital de empresas e a assembleia geral da cimenteira também chumbou a desblindagem de estatutos, que limitava os direitos de voto a dez por cento.
Para o chumbo da OPA na "secretaria" foi fundamental o voto do BCP, da Teixeira Duarte e dos franceses da Lafarge, número um mundial dos cimentos, que detinha 10 por cento da empresa portuguesa e que não estava interessado que a cimenteira passasse para as mãos do seu rival. Pedro Queiroz Pereira perde, acusa Teixeira Duarte, BCP e Lafarge de concertação de posições, mas de nada adianta. Ainda em 2001, o Governo vendeu os últimos dez por cento à Teixeira Duarte, que oficialmente passa a deter 20 por cento.
Seguem-se anos de paz "podre". A Teixeira Duarte dominava a empresa, com o apoio do BCP, mas com algum desconforto de outros accionistas. Entretanto, a Lafarge vai reforçando e chega aos 17 por cento. Manuel Fino também assume uma posição de relevo, perto de 19 por cento (10 por cento dos quais estão agora na Caixa Geral de Depósitos, no âmbito de uma operação financeira). Mas o BCP, até então fiel da balança, deixa de ter esse papel a partir do momento que rebenta o conflito entre os seus accionistas, em 2006. A partir daqui, o clima de instabilidade da Cimpor transforma-se num conflito assumido.
Manuel Fino, que no BCP ficou ao lado de Paulo Teixeira Pinto, atrai o apoio da Lafarge, que antes estava ao lado da Teixeira Duarte. Pedro Maria Teixeira Duarte, velho aliado do fundador do BCP, Jardim Gonçalves, fica isolado na cimenteira. O seu filho, Pedro Teixeira Duarte, que chegou a ser presidente da cimenteira e da comissão executiva, tinha até há pouco tempo Jorge Salavessa Moura, gestor próximo da Teixeira Duarte, na presidência da comissão executiva. No entanto, o Conselho de administração liderado por Ricardo Bayão Horta, cuja eleição também não foi pacífica, decidiu afastar, já este mês, Salavessa Moura do cargo. Uma acção em que foi determinante a junção da Investifino e da Lafarge, que, juntas, representam quase 40 por cento do capital social da cimenteira.
Ainda assim, a cimenteira iniciou a expansão em 1992, dois anos antes do início da sua reprivatização, mas acabou por fazê-lo de forma acelerada a partir daí, incluindo nos últimos anos de gestão instável. Hoje, a Cimpor está em 12 países, para além de Portugal. Entre eles, a China e a Índia, os dois maiores mercados do mundo. Neste momento, apenas um quarto do volume de facturação da empresa está em Portugal. Rosa Soares.com L.V.