Mas continua a valer a pena ver os Simpsons? Há quem defenda que a família amarela de Springfield é como um desportista que insiste em manter-se em actividade, apesar de os seus dias de glória já terem passado, mesmo aqueles que praticamente não conhecem o mundo sem Homer, Bart, Lisa, Marge e Maggie. "Parece menos consistente, mais com o objectivo de meter o maior número de piadas possível em cada episódio e menos [a pensar em] contar uma história e esperar que as piadas apareçam", reconhece, citado pela CNN, Jacob Burch, 23 anos, administrador do site NoHomers.net, ele que tinha três anos a 17 de Dezembro de 1989, data de emissão do primeiro episódio - hoje já vai em 449, distribuídos por 21 temporadas, e é a série de comédia que há mais tempo se mantém no ar.
Os puristas consideram que os Simpsons não envelheceram bem (apesar de as personagens terem a mesma idade desde o início), afastaram-se da sua matriz, já não são subversivos como eram nos primeiros anos, com o sucesso tornaram-se parte do sistema e só continuam a existir porque são lucrativos para Matt Groening, o criador, e a cadeia de televisão Fox, o exibidor. No grupo destes puristas podemos pôr até um personagem do universo Simpson, o Comic Book Guy, fanático de banda desenhada e ficção científica, a essência do que é ser obcecado por alguma coisa. "Claramente os episódios já não são tão bons. As únicas pessoas que continuam a pensar assim são Groening e [Al] Jean [um dos produtores da série]", reconhece John Ortved, autor do livro Os Simpsons: Uma história não Censurada e não Autorizada.
OrigensNa verdade, quem faz 20 anos hoje é a série de televisão, porque as personagens foram criadas dois anos antes. Segundo a lenda, os Simpsons, começaram por ser rabiscos num guardanapo que Matt Groening fez em 1987, enquanto esperava para ter uma reunião com os executivos da Fox. Do guardanapo passaram para pequenos sketches animados no Tracy Ullman Show e, dois anos depois, foram promovidos para uma série de 20 minutos com nome próprio e em horário nobre nas noites de domingo, de onde os Simpsons nunca mais sairiam.
Os Simpsons aborreciam todos, e, entre a crítica ao americano médio e aos valores familiares que a América reclama como seus, tudo servia como alvo: política, religião, finança, até a própria televisão. George Bush pai, o Presidente em exercício (Barack Obama é o quarto Presidente da era Simpsons), quando os Simpsons apareceram, dizia que a família amarela estava a dar cabo da família americana, e era apoiado nas críticas por Barbara Bush, a primeira-dama, que dizia que os Simpsons eram "a coisa mais estúpida" que já tinha visto. Mas o público norte-americano aderiu e as audiências apareceram, mais o merchandising e o sucesso internacional - ao todo, calcula-se que os Simpsons tenham gerado receitas superiores a três mil milhões de dólares (mais de dois mil milhões de euros).
"O interesse da série está nas pessoas identificarem as personagens. Conseguimos ver as outras pessoas nelas: o nosso chefe é o Mr. Burns; o meu irmão é como o Bart. Mas as pessoas não se revêem nelas", explica Patric Verrone, antigo argumentista da série num artigo do diário britânico TheIndependent. E a verdade é que os Simpsons não se resumem ao patriarca Homer, à mulher de cabelo azul Marge, ao rebelde Bart, à intelectual Lisa e à bebé que nunca fala, Maggie. À volta deles surgiram personagens que encaixam num tipo: o vizinho ultra-religioso (Ned Flanders), o patriarca abandonado (Abe Simpson), o milionário tirano (Monty Burns), o polícia estúpido (Wiggum), o miúdo que bate em toda a gente na escola (Nelson), o indiano dono da loja de conveniência (Apu), o palhaço alcoólico (Krusty). A lista é quase interminável.
A teoria da decadênciaVários são os sinais, dizem os críticos, da estagnação e decadência dos Simpsons. Por exemplo, haverá demasiados convidados especiais a aparecer na série (Tony Blair, Michael Jackson, Elizabeth Taylor, Mick Jagger, Stephen Hawking), que disfarçam a falta de ideias dos argumentistas e reforçam o carácter institucionalizado da série - mas nunca tiveram nenhum Presidente norte-americano a dar voz; relembra Al Jean que chegaram a convidar Ronald Reagan, mas que este rejeitou de forma bastante educada numa carta que Jean guardou, emoldurou e tem pendurada no escritório.
A crítica vai directamente para os argumentistas e o actual produtor da série, Al Jean, acusados de transformar os Simpsons num acumular de referências pop com objectivos humorísticos, para não se deixar ficar para trás perante a concorrência de outros títulos do género como Family Guy, American Dad! ou South Park que, sem os Simpsons, provavelmente nunca teriam existido. "Parece uma imitação dos seus imitadores. Os últimos Simpsons são barulhentos, erráticos, certinhos, controlados e fazem rir de forma tão intermitente que quase não vale a pena ver", lamenta David Bennum, blogger do jornal Guardian.
Para Chuck Coletta, professor de cultura pop, aconteceu aos Simpsons algo natural para quem está no mundo há 20 anos - tornaram-se icónicos, "como a Disney". E têm uma vantagem em relação às séries em imagem real, que sofrem com o envelhecimento dos actores e a constante mudança de personagens: os Simpsons não envelhecem. Bart tem dez anos desde 1989, Homer tem os mesmos dois cabelos e Maggie continua a ser um bebé de colo. "Os meus alunos não conhecem um mundo sem Simpsons. Já faz parte da vida", acrescenta.
O criador, pelos menos em público, não acredita na longevidade da série, mas também não consegue pensar quando vai acabar. "Se amanhã fosse atropelado por um camião, os Simpsons podiam continuar indefinidamente. Não parecem ter fim à vista", dizia Matt Groening há uns anos. No sexto episódio da primeira temporada, Bart escreve várias vezes no quadro da sala de aula (um gag recorrente na introdução de quase todos os episódios) "I will not instigate revolution" ("Não irei instigar uma revolução"). Objectivo não cumprido.