Ainda não tem 30? Então o mais certo é viver em casa dos pais

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Pedro ontem em casa dos pais: “Quero ser eu a escolher os quadros” Shamila Mussá

Pedro Pereira acertou em cheio nas estatísticas e tem grandes planos para 2010. Tem 28 anos e faz 29 em Janeiro. Se tudo correr bem, em Fevereiro pensa sair de vez de casa dos pais. No máximo até ao Verão quer o seu espaço. O seu limite são os 29 anos e meio, exactamente a média de idades com que os rapazes portugueses saem de casa dos pais e um dos valores mais elevados da União Europeia (UE), de acordo com um estudo divulgado ontem pelo Eurostat. Comprar ou alugar casa, limpar, cozinhar, ir às compras e pagar as contas são alguns dos verbos que vai juntar à sua rotina. Quer abraçar o desafio da independência.

Um desafio que Leonardo Xavier, de 26 anos, e Raquel Faria, de 27, ainda estão longe de concretizar. A falta de estabilidade no emprego, a par com alguns "mimos" dados por pais saudosistas dos seus "bebés", são os principais argumentos invocados para não darem o salto. De acordo com o gabinete de estatísticas da UE, em Portugal, em média, os rapazes só saem de casa dos pais aos 29,5 anos e as raparigas aos 28,5, o que coloca o país, respectivamente, em 9.º e em 5.º lugar entre os 27 estados-membros. E Pedro sente que chegou a altura. "Quero ser eu a escolher os quadros que penduro nas paredes", brinca, enquanto olha para a sala dos pais repleta de bibelots.

A liderar a tabela daqueles que se tornam adultos ainda a viver no "ninho" está Bulgária, Eslovénia e Eslováquia, onde a média para os rapazes é de 31,5 anos. As raparigas eslovacas são as que se tornam independentes mais tarde, aos 29,8. No sentido contrário vai a Finlândia, onde os rapazes saem aos 23,1 e as raparigas aos 22.

Portugal é também dos países onde a camada jovem da população tem um vínculo mais precário no trabalho. Entre os 15 e os 24 anos, mais de 54 por cento dos jovens estão com um contrato de trabalho temporário e entre os 25 e os 29 este número ainda se situa nos 38,3 por cento, o segundo mais elevado na UE. Dados que são agravados pelo número de desempregados entre os 25 e os 34 anos: Portugal tem 7,7 por cento dos jovens com qualificações elevadas sem emprego, quando na UE a média é de 5,9.

Uma tendência que preocupa Maria das Dores Guerreiro, investigadora do ISCTE. Para a especialista, Portugal, a par com Espanha e Itália e ao contrário dos países nórdicos, "tem um Estado providência demasiado focado na família e pouco orientado para a responsabilização do indivíduo", o que dificulta a saída, em especial para os jovens mais qualificados que "legitimamente procuram o emprego dourado e têm expectativas elevadas". Contudo, alerta que os que saem mais cedo e com estudos incompletos encontram depois a precariedade. Os pais, defende, são também "proteccionistas" e acabam por não querer abrir mão dos filhos. Como "as relações afectivas são vividas de forma mais liberal", isso também já não é um incentivo à saída e estas pessoas entram no mundo dos adultos com "dificuldades de partilha de um espaço e com conjugalidades precárias" e compensam com mais vida social.

Pedro, apesar de tudo, construiu o seu "manual de sobrevivência" quando fez Erasmus um ano em Itália e estagiou oito meses na Bélgica. Agora, este licenciado em Engenharia dos Materiais pelo Instituto Superior Técnico sente que chegou a altura de "sair de vez" e alugar casa com amigos. Trabalha em peritagens e vai constituir a sua empresa, com a qual prestará serviços à Caixa Geral de Depósitos. "É um emprego confortável."

Raquel, licenciada em Comunicação Social e Cultural pela Universidade Católica Portuguesa, não tem esse emprego. Tem um part-time no Hard Rock Café para completar o instável trabalho ligado ao teatro - a sua "paixão". Pelo caminho ficou um estágio na SIC e um emprego como consultora na Cunha Vaz & Associados. Continua em Sintra com os pais, "mas se tivesse estabilidade já tinha saído". Como por cá só encontra precariedade, pretende juntar dinheiro e, se tudo correr bem, em Outubro ruma a Nova Iorque para completar a sua formação. É com amargura que recorda vários amigos belgas que tem e que com a sua idade vivem sozinhos e, mesmo assim, viajam.

Leonardo já tem a sua empresa, onde aliou a sua formação em Design na Faculdade de Belas-Artes de Lisboa com a passagem pela Engenharia Informática. As coisas estão a correr muito bem mas a vivenda dos pais, que fica na Malveira e tem piscina, continua a ser irresistível. "Se tivesse namorada se calhar saía mais depressa. Talvez pense nisso em 2010 e depois adie para 2011", ironiza. E assume: "Acabo por ter confortos que de outra forma seria difícil, como ter senhora da limpeza. Ainda por cima, os meus pais passam grande parte do ano fora".

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