Moradores da Quinta de S. Gabriel acusam Câmara de Almada de ignorar problemas de saneamento e lixo
Para o presidente da Associação de Moradores, José Cabral, desta área urbana de génese ilegal (AUGI), o cenário é “vergonhoso”. “O nosso processo é de 1986. Ainda não estamos ligados à rede de esgotos, apesar de as pessoas pagarem saneamento básico na factura da água, a recolha de lixo é insuficiente, poucas ruas têm nome e estão alcatroadas - quando chove há lagoas e lama -, há muitas obras embargadas e muitos prédios devolutos, onde vivem sem-abrigo e toxicodependentes”, enumerou.
Para além disso, acrescentou, “aqui não chegam transportes públicos - a paragem mais próxima fica a uns dois quilómetros a pé -, os táxis recusam-se a vir devido ao estado do pavimento, e nem a polícia se orienta nestas ruas”.
“Aquilo que está feito é o que a associação de moradores fez. Temos aqui gastos 300 mil contos [150 mil euros]”, afirmou, sublinhando que “os problemas que a autarquia levanta relativamente à construção fazem com que muitas casas devolutas e espaços de obras embargadas sirvam de abrigo ao tráfico de droga”.
Para António José Sequeira, 68 anos, ali nascido, hoje proprietário de uma mercearia, “tudo nesta zona é uma dificuldade”: “Estamos completamente isolados. Não somos parte da Almada dos folhetos, a Câmara Municipal de Almada tem olhado pouco para aqui, para não dizer que não tem olhado nada”.
O morador disse ainda à Lusa que “a larga maioria das pessoas que aqui vivem são idosas. Se os filhos não vêm buscá-los não saem de casa”, acrescentou.
A Quinta de S. Gabriel faz parte, de acordo com números da Câmara de Almada, dos 950 hectares de AUGI no concelho, resultantes de um processo de construção ilegal que começou nos anos 60, com a instalação da ponte 25 de Abril e de grandes indústrias na cidade.
Contactada pela agência Lusa, a vereadora para o Planeamento e Administração do Território, Amélia Pardal, explicou que “o objectivo da autarquia é que nos próximos quatro anos se resolva a situação da maior parte das AUGI que estão por resolver, 70 áreas, equivalentes a 137 hectares”.
“Temos planeado um conjunto de projectos estruturantes que se aplicará a muitas destas áreas e vamos acompanhar o processo de forma activa e interventiva”, acrescentou.
A vereadora sublinhou, contudo, que “o processo de reconversão é demorado” e que “não passa apenas pela autarquia”: “Consideramos que o processo de relação bipartida [entre a autarquia e as associações de moradores] é fundamental para que as coisas corram bem”, rematou.