Os "bichos" do ourives que moldava a prata de forma severa

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Cavalo recriado por Luiz Ferreira

Cavalos em poses de selvagem liberdade, temerosos javalis, simpáticos coelhos e gatos, dragões imaginários, cisnes fora de água... Habituámo-nos a ver estes fantásticos animais, entre um realismo exacerbado pela espessura da prata e a fantasia permitida pelo marfim e pelo cristal, nas montras de ourivesarias do Porto. São os "bichos" de Luiz Ferreira (1909-1994), o mestre ourives portuense cujo centenário do nascimento é agora assinalado com a edição de um livro escrito por Gonçalo Vasconcelos e Sousa e prefaciado por Luís Valente de Oliveira.

Os Bichos de Luiz Ferreira, uma edição de iniciativa da família, concretizada com o apoio da Associação Comercial do Porto (ACP), é apresentada hoje, às 21h30, no Salão Árabe do Palácio da Bolsa, numa sessão que, para além da apresentação do autor, incluirá um pequeno recital de piano por Rogério de Azevedo e uma exposição de algumas das peças do homenageado.

Rui Moreira, presidente da ACP - que teve também um vínculo familiar com Luiz Ferreira -, classifica-o como "o último alquimista" e um criador "ávido, curioso e culto, capaz de reconhecer a origem de qualquer peça de prata ou de ourivesaria com um mero olhar, severo e elegante".

Luiz Ferreira nasceu numa família de ourives - "bebeu na tradição portuense de formar dinastias de ourives, de casar entre famílias profissionais do mesmo ofício", escreve Gonçalo Vasconcelos e Sousa. Os seus avós, paterno e materno, respectivamente David Ferreira (Porto) e Luís António Monteiro (Tondela), eram ambos mestres deste artesanato. Do pai, também David Ferreira, herdou a oficina e loja na Rua das Flores, depois transferida para a Rua de Trindade Coelho, onde ainda hoje se acumulam colecções das suas peças.

Os "bichos" de Luiz Ferreira estão representados em vários museus nacionais e estrangeiros. E, ao longo das décadas do século XX, levaram o nome da ourivesaria - e a marca "LF" - aos acervos de figuras do mundo inteiro, desde a rainha de Inglaterra ao rei Juan Carlos de Espanha, do Presidente americano Ronald Reagan à primeira-dama Jacqueline Kennedy, mas também às colecções das casas Dior, Chanel, Tiffany"s e Cartier (onde chegou a estar na montra da loja em Londres).

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