Time Warner livra-se da AOL e põe fim a uma fusão que foi considerada histórica
Era o maior negócio de sempre deste género e foi feito no pico do entusiasmo da bolha dot-com. Mas acabou por ser um enorme fracasso. A AOL tornou-se depressa um fardo para a Time Warner, que hoje leva a cabo a já anunciada alienação.
Na prática - e apesar da terminologia usada pelas duas companhias, que se referia sempre a uma fusão e à criação de uma nova empresa - o negócio foi uma compra. E o comprador era a muito mais pequena AOL.
Por 164 mil milhões de dólares pagos em acções (cerca de 110 mil milhões de euros, ao câmbio actual), os accionistas da AOL passaram a deter 55 por cento da nova empresa, chamada AOL Time Warner. Esta tinha um valor de mercado a rondar os 350 mil milhões dólares e era o maior conglomerado de media e entretenimento do mundo.Impérios unidos
A Time Warner era dona de estúdios de cinema, revistas, sites e inúmeros canais de televisão. À data do negócio, a AOL (cujo nome deriva de America Online) era o principal fornecedor de acesso à Internet nos Estados Unidos e geria um conhecido portal homónimo, popular sobretudo entre cibernautas americanos. A ideia era juntar a produção de conteúdos com os canais de distribuição, que fazia as delícias dos analistas à época em que se pensava que o mundo da Web não tinha limites para a expansão.
A queda das áreas de negócio associadas à AOL foi, contudo, muito rápida. Um ano depois de consumado o negócio (que foi oficializado apenas em Janeiro de 2001, depois de aprovado pelos reguladores), já os lucros do negócio do acesso à Internet tinham caído drasticamente.
A AOL, que dominava o mercado das ligações telefónicas, teve dificuldades em adaptar-se ao mundo das ligações de banda larga oferecidas por cabo.
Por outro lado, e numa altura em que a bolha tecnológica tinha já rebentado, a AOL sofria de um problema típico dos portais de Internet que explodiram no final da década de 1990: o portal oferecia aos clientes serviços numa lógica que frequentemente se chama "jardim murado" e que consiste em querer disponibilizar num mesmo espaço todo tipode informação e aplicações (da meteorologia ao e-mail, passando pela pesquisa na Web e pelas notícias).
A AOL abandonou progressivamente este modelo, que não sobreviveu à evolução da Internet, mas nunca se conseguiu impor como um nome forte da Web pós-bolha tecnológica.
Em 2003, a AOL Time Warner passou a chamar-se apenas Time Warner. A mudança era significativa. O facto de a AOL encabeçar o nome da empresa era um símbolo do triunfo da Internet sobre os antigos media. O presidente executivo da antiga AOL, Steve Case, que assumira o lugar cimeiro depois da fusão, foi também afastado de funções. E a AOL passou a ser apenas mais uma divisão do grupo Time Warner.Venda difícil
Ao longo dos últimos anos, a Time Warner tentou algumas vezes, sem sucesso, vender a AOL. Recentemente, uma das possibilidades em cima da mesa era uma fusão com o Yahoo, outro portal que se tornou um gigante da Internet na segunda metade da década de 1990 e que se encontra hoje em dificuldades.
Na altura, alguns especialistas do sector compararam o negócio a dois náufragos a querem agarrar-se um ao outro para tentar encontrar a bóia de salvação.
A alienação acabou por ser a solução, anunciada oficialmente em Maio deste ano. A AOL - muito mais pequena do que no início da década - passa agora a funcionar como uma empresa independente e, já amanhã, deverá adoptar uma nova imagem de marca.