A guerra de Obama: enviar tropas para preparar a "estratégia de saída"

Primeiro, lançar uma contra-ofensiva para suster o avanço dos taliban, condição para inverter a relação de forças no terreno, criar espaço para uma rápida expansão do Exército afegão. São condições para abrir um posterior processo de "reconciliação nacional", com os próprios taliban. O Afeganistão vive um misto de guerra civil e de "insurreição contra os estrangeiros", diz um analista. Uma solução tem de combinar um acordo interno e a diluição da presença estrangeira.

Segundo, aumentar a pressão sobre a Al-Qaeda na fronteira paquistanesa. Obama repetiu a fórmula "desorganizar, desmantelar e derrotar a Al-Qaeda no Afeganistão e no Paquistão". Para tal, precisa do Paquistão, ao qual propôs uma "parceria estratégica alargada", militar e económica.

As novas forças são enviadas não para derrotar os taliban, mas para inverter a situação militar. Uma parte das tropas será enviada para o Sul, mas o seu destino final deverá ser garantir a segurança das grandes cidades e vias de comunicação, em vez de proteger toda a população, como inicialmente previa McChrystal.

A retirada, que começaria dentro de 18 meses, pressupõe o reforço da administração civil e das forças militares afegãs. Ora, o ascendente militar dos taliban bloqueia qualquer veleidade de atrair as populações e líderes tribais: raros estão dispostos a correr riscos no campo perdedor.

Neste sentido, o horizonte da retirada já foi criticado por enviar uma mensagem errada aos taliban. No entanto, Obama precisava de o enunciar para pressionar Cabul a agir e afastar o fantasma de uma escalada de tipo vietnamita.

Esta estratégia tem ambiguidades. Obama está submetido a factores que não controla e ele próprio limitou a sua margem de manobra em relação ao envio de novos reforços militares.

Se o Presidente decide sobre o envio de tropas, depende do Congresso para o financiamento da guerra, e esta é uma "batalha" que rapidamente se vai travar.

Os analistas militares são pessimistas quanto à possibilidade de uma viragem da situação afegã em menos de três anos. Outros falam em cinco anos para que a reorganização do Exército afegão seja credível.

O aumento das baixas pode atingir um nível politicamente insuportável. Seria um factor explosivo a somar ao custo da guerra numa época de crise e desemprego. A opinião pública americana será um factor determinante e reside aqui o maior risco de uma retirada em debandada.

A nova estratégia depende largamente de outro factor que Obama não controla: Karzai, cujo estilo e cuja fraqueza não ajudam a reorganizar a administração e o Exército. A Casa Branca abandonou os desígnios de democratização. Fala-se mais numa estrutura política em bases tradicionais.

Mas há um delicado ponto de honra: o apoio civil ocidental fica condicionado a um plano de luta contra a corrupção. Esta é endémica e enraizada. Há no ar uma ideia desastrosa de colocar Karzai sob a tutela de um comissário internacional: contribuiria para alimentar a "guerra aos estrangeiros".

A incógnita final é Islamabad. Uma vitória dos taliban contribuiria para a desestabilização do Paquistão, que muito preocupa os EUA. A Al-Qaeda já não opera praticamente no Afeganistão, mas poderia regressar. Farão estes riscos alterar a doutrina histórica dos serviços secretos militares (ISI), que fomentaram a formação dos taliban e sempre os desejaram no poder em Cabul? Até agora, nada o indica.

Tal como os generais, Obama precisa de sorte. Não para vencer, mas apenas para sair.

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