Seria bom que se conseguisse desfazer o equívoco que anda a perseguir o discurso sobre o cinema português - não existe necessariamente uma oposição entre o cinema dito comercial e o cinema dito de autor, há bom e mau num e noutro.
Isto tudo para explicar que, se "Uma Aventura na Casa Assombrada" é um péssimo filme, isso não tem nada a ver com as suas ambições populares nem com a sua intenção de fazer um objecto pensado para um público juvenil. É um péssimo filme, primeiro, porque não fornece o mínimo esqueleto narrativo básico para que as personagens e as situações sejam credíveis, factor muito importante num filme que se quer fantástico e exige uma "suspensão de descrença" activa. É um péssimo filme, depois, porque parece não ter a mínima noção de ritmo, plano ou "raccord" - desde portas de carros abertas num plano e fechadas no seguinte a conversas entre personagens em que se usam quatro cortes, passando por planos de helicóptero que não fazem sentido na história mas enchem o olho, a quantidade de erros de palmatória que não seriam desculpados na mais michuruca produção europeia tornam "Uma Aventura na Casa Assombrada" num catálogo de disparates que pensávamos já não ser possível.