Debaixo de fogo, Marinho Pinto avisa que pretende manter-se à frente da Ordem
"Já disse que ficava e fiquei mesmo e ficarei até que os advogados o decidam", declarou o bastonário, anteontem à noite, no final da assembleia geral da OA, que se prolongou por seis horas e meia e ficou marcada por um coro de críticas às suas propostas, por pretenderem "estrangular os conselhos distritais da Ordem pela via orçamental". Um total de 1829 advogados manifestou-se contra a proposta de orçamento, a qual obteve 550 votos a favor e apenas uma abstenção.
Marinho Pinto deixa claro que não sai, mas há já quem esteja a pensar na sua sucessão. Magalhães e Silva, que o defrontou nas últimas eleições para a OA, disse ontem ao PÚBLICO que a sua candidatura "está a mexer bastante" e que é sua intenção anunciá-la já no início de 2010.
"O que me leva a recandidatar é a necessidade de protagonizar uma alternativa ao actual bastonário e a fazer da Ordem um instrumento regulador da profissão, que foi para isso que ela foi criada. Neste momento, isso não está a acontecer", salientou o advogado, insurgindo-se contra "as abordagens do bastonário no estilo de porta-voz da conversa de café".
Declarando que "a melhor forma de abordar a justiça não é com ataques aos magistrados", Magalhães e Silva disparou contra o bastonário, acusando-o de ter um "discurso de bota-baixismo que cai bem no espectáculo mediático e na conversa de café, mas que não dignifica a classe".
"Ao dr. Marinho Pinto falta-lhe espírito democrático, capacidade de compreensão em relação aos outros, disponibilidade para lidar com quem não pensa como ele e sentido institucional. Falta-lhe isso tudo!", diz Magalhães e Silva. Acusando o actual bastonário de estar a tentar "esvaziar os conselhos distritais, aniquilando-os através da via financeira", o advogado lamenta que Marinho Pinto "esteja sobretudo preocupado em ser uma espécie de tenor para dar algum espectáculo que a mediatização da vida de hoje sempre comporta". E deixa um conselho: "O que é importante é que neste último ano o dr. Marinho Pinto faça um esforço para emendar a sua trajectória, no sentido de ir ao encontro dos advogados e dos titulares dos diversos órgãos, procurando consensualizar posições".
Acalmar a tensãoÉ também de consenso que o advogado José António Barreiros fala. O presidente do Conselho Superior da Ordem considera que o bastonário "deveria entrar numa lógica de consensos" no sentido de acalmar a tensão que varre os vários órgãos representativos da OA. Em declarações ao PÚBLICO, José António Barreiros não encontra nenhuma explicação para ser visto como "o líder da oposição interna", como o considera Marinho Pinto, mas vai dizendo que o bastonário encara os ataques como uma espécie de "fantasmas".
Um dos confrontos mais violentos da assembleia geral de segunda-feira aconteceu quando o bastonário leu um extenso rol de posições contrárias à sua direcção assumidas por José António Barreiros. Marinho Pinto disse que "é adequado" afirmar-se que o dirigente do Conselho Superior lidera a oposição interna ao bastonário, acusando-o de estar a fazer "campanha eleitoral". Esta foi, de resto, uma resposta reiterada do bastonário aos seus críticos: "Não concordam com a política seguida? Candidatem-se!", repetiu na reunião magna.
José António Barreiros afasta, contudo, a ideia de estar a fazer campanha para se candidatar a bastonário da Ordem: "Estou afastado dessa ideia mas, se fosse bastonário, abdicaria de qualquer remuneração, voltando ao modelo dos velhos bastonários com espírito de missão".