PSD avança com comissão na Assembleia para acompanhar o combate à corrupção

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Ferreira Leite acusa Governo de ocultar a realidade da economia Paulo Pimenta

Pacheco Pereira terá saído satisfeito: levou de vencida uma ideia que até ontem não tinha encontrado resposta por parte da direcção da bancada social-democrata na Assembleia da República e que suscitara sérias reservas a alguns deputados, como Fernando Negrão e José Matos Correia. O líder parlamentar terá optado por seguir o conselho de Mota Amaral, que defendeu que "não se devia deitar fora" a ideia porque "merecia reflexão".

Entre as reticências de uns - que alertaram para o risco de se duplicarem organismos - e a necessidade do PSD de competir no mesmo plano em termos de iniciativa política numa matéria tão decisiva como a corrupção, Aguiar-Branco encontrou nestas jornadas "a oportunidade" para uma afirmação da sua própria liderança. Anunciou a proposta mesmo no fim dos trabalhos de ontem, que decorreram à porta fechada, e, no discurso, respondeu a uns e a outros. Ao lado da líder do partido, Manuela Ferreira Leite, que desferiu um duríssimo ataque ao Governo do PS.

"Há sinais preocupantes sobre o modo como o PS interpreta o desempenho de um Governo minoritário. Persiste em ocultar a realidade da economia, vitimiza-se, ameaça, intriga, confunde. E dispõe-se a dar o dito por não dito sempre que sente que assim adia o confronto", acusou Ferreira Leite, depois de revisitar todo o seu argumentário político em torno de "um Estado asfixiante". "A coberto da crise atropelam-se direitos, desequilibra-se a concorrência, prometem-se apoios que só se concretizam para os que calam críticas ou prestam vassalagem ao poder", ilustrou. E reservou um ataque particular para o ministro das Finanças, acusando-o mesmo de "colaborar na falta de seriedade deste Governo e desrespeitar a capacidade mental dos deputados". Em causa "a rábula" e "o jogo de mistificação" de Teixeira dos Santos à volta do nome da alteração ao Orçamento. Os deputados aplaudiram-na.

Antes, Aguiar-Branco explicara a iniciativa do PSD sobre corrupção no quadro da responsabilidade que é pedida à Assembleia da República. Definiu como objectivos da comissão "criar, harmonizar e reforçar medidas que o visem combater". "Não se trata, naturalmente, de pressionar acções judiciais em curso. Nem terá a missão de se substituir ao Conselho de Prevenção da Corrupção", assegurou, tentando afastar leituras conexas com o processo Face Oculta. O certo é que, no rescaldo da decisão do procurador-geral da República em arquivar as escutas que envolvem José Sócrates, o caso atravessou as próprias jornadas parlamentares. E Aguiar-Branco também não o ignorou no seu discurso, ainda que de forma indirecta. Lembrou que "ninguém é obrigado a aceitar um cargo político", mas ao assumi-lo "aceita o escrutínio das suas palavras, das suas conversas" e tem de ter "uma atitude exemplar". "Seja um presidente de junta ou um primeiro-ministro. Não há desculpas e não há retoma sem que os portugueses confiem em quem elegeram", declarou.

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