Em Portugal os jogos já são um negócio sério

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Os videojogos são a indústria cultural que mais cresce anualmente Chris Pizzello/Reuters

À escala global, tudo isto movimenta milhões de pessoas e milhares de milhões de euros todos os anos. Os videojogos são a indústria cultural que mais cresce e já ultrapassaram as vendas de música. Só no mercado português, foram vendidos este ano quase 62 milhões de euros em jogos.

Mas, para os portugueses, os videojogos não são apenas entretenimento. Há muitos a tentar a sorte numa indústria rentável. E há até quem invista um milhão de euros para produzir um único jogo. Filipe Pina tem 30 anos e deixou em 2007 o emprego na SIC para fundar, com mais cinco sócios, a Seed Studios, uma empresa de videojogos sediada no Porto.

Começaram por desenvolver protótipos ainda antes de fundarem a empresa (Filipe Pina tirava licenças sem vencimento para trabalhar nestes projectos). Criaram um pequeno jogo quando a empresa arrancou (um sudoku, que vendeu dez mil unidades e tinha como objectivo perceber como o mercado funcionava).

E agora têm em mãos o primeiro jogo a ser desenvolvido em Portugal para a PlayStation 3, a consola topo de gama da Sony. Under Siege é um jogo de estratégia que se desenrola num ambiente de fantasia medieval e tem um custo de produção de um milhão de euros.

“É um risco muito grande. Mas com muito potencial de retorno”, acredita Pina, lembrando que foi difícil pedir empréstimos aos bancos explicando que a ideia da empresa era fazer um videojogo a custar um milhão. Para além da banca, o financiamento de Under Siege integra apoios do Estado e capital da própria empresa, que emprega hoje 16 pessoas.

A utopia dos grandes jogos

No meio pequeno que é o mundo da produção de videojogos em Portugal, a Seed Studios é muitas vezes apontada como uma empresa que fez o percurso certo: começou por pequenos projectos e chegou a um grande jogo para consola – precisamente o tipo de jogo que é o objectivo de muitos, mas que, frequentemente, nunca chega a passar de uma “utopia”, explica Ricardo Vladimiro, fundador de uma pequena empresa no sector.

Tal com Filipe Pina, Vladimiro, com 34 anos, deixou o emprego (como por sua vez, os colocam on-line. Um dos mais bem-sucedidos títulos demorou apenas três semanas a ser produzido. Rendeu 12 mil dólares. “O câmbio é que está a estragar tudo”, desabafa Vladimiro – 12 mil dólares são oito mil euros. “O meu sócio não quer saber da parte financeira, mas uma vez tive de lhe explicar que, com este câmbio, é como se estivéssemos a vender os jogos com 40 por cento de desconto”.

Apostar nas mulheres

Uma das maiores empresas portuguesas de videojogos aposta precisamente nos jogos casuais – e tem estado a explorar nichos dentro do nicho. Crianças entre os oito e os 12 anos e mulheres entre os 35 e os 55 anos são segmentos apetecíveis, explica Mariana Cardoso, directora da Gameinvest, uma firma que arrancou há três anos e que emprega mais de 20 pessoas. “É um mercado grande e que está a crescer.”

A Gameinvest faz jogos para download a partir da Internet e para as consolas da Nintendo. “Não vamos abandonar o mercado dos jogos casuais”, assegura Mariana Cardoso. Mas admite que o plano passa chegar aos títulos mais complexos. Na Gameinvest, produzir um jogo significa entre oito meses e um ano de trabalho, com um orçamento entre os 100 mil e os 200 mil euros. Um valor muito abaixo do milhão de euros investido pela Seed Studios de Filipe Pina.

Para empresas que estão no mercado há poucos anos – e num país sem tradição a produzir videojogos – um jogo grande significa também um grande risco. “O percurso deve ser feito aos poucos. Talvez daqui a uns cinco anos [cheguemos aos grandes jogos para consolas]”, diz, cautelosa, Mariana Cardoso. Filipe Pina graceja: “Se isto correr mal, vou ter de bater à porta de casa da minha mãe”.

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