Espólio de Variações suscita interesse mas lotes foram licitados dentro das estimativas
Chamava-se É Pró Menino e Prá Menina, a barbearia que António Variações detinha na Baixa de Lisboa. Ontem à noite não foi necessário recorrer-se ao popular pregão para suscitar a atenção das cerca de 150 pessoas - e muitas outras na Internet - que estiveram no primeiro leilão de memorabilia do falecido cantor e ícone pop português que marcou a década de 80, realizado no Centro Cultural de Belém.
Objectos usados na barbearia, cassetes com gravações originais, roupa, manuscritos, letras de canções, programas de concertos, peças de colecção (selos, postais, santinhos ou botões) e fotografias integravam os 200 lotes que a leiloeira P4, em concordância com a família, restaurou, catalogou e enquadrou do ponto de vista histórico. Grande parte dos lotes foram vendidos dentro do valor da estimativa prevista.
Uma das excepções mais notórias foi um casaco azul comprido feito pelo próprio Variações. A estimativa apontava para uma variação entre 60 e 120 euros, tendo sido adquirido por 380.
Entre as peças mais valiosas, e com preço base de licitação mais elevado, encontravam-se as 41 cassetes, de 60 e 90 minutos, com anotações manuscritas de Variações, que viriam a originar as canções do projecto Humanos. Foram vendidas por 1000 euros, que era a base de licitação.
Os manuscritos das letras das canções Maria Albertina (400 euros) e Sempre além (700 euros) foram as que atingiram valores mais elevados.
Uma fotografia de Variações empunhando uma tesoura foi vendida por 400 euros. Um busto que surgia no videoclip da canção O corpo é que paga foi vendido por 900. Um comprido casaco de Pierre Cardin atingiu o valor de 620 euros. Uns óculos de sol que costumava utilizar com o casaco foram adquiridos por 300 euros. Antes do início do leilão previa-se que os 200 lotes renderiam, no mínimo, 33 mil euros e no máximo mais de 65 mil. As bases de licitação estavam situadas em metade do valor da estimativa mínima, o que fazia acreditar que todas as peças teriam preços acessíveis. O facto de terem sido adquiridas na sua maioria, comprovam-no.
Na sala, gente do espectáculo, actores, produtores, curiosos e também algumas pessoas que conviveram com o cantor na década de 80, como Luís Eurides, que antes da sessão se iniciar confessava que gostava de adquirir algumas fotos do cantor, “se a concorrência deixasse.” Mas as motivações eram as mais diversas. Lígia Alemã confessava que tinha vindo atraída apenas pela curiosidade: “É a primeira vez que venho a um leilão, não espero comprar nada, mas nunca se sabe, talvez leve daqui algumas prendas de Natal.”
Não é comum este tipo de leilões em Portugal, tendo por base o espólio de ícones pop. Mas o interesse suscitado não surpreendeu Luís Trindade, responsável pela P4, que no entanto ressalva que uma coisa é a atenção mediática e outra, as duas horas em que o mercado dita as suas leis. “Mas parte do nosso objectivo foi alcançado antes dessa fase, mostrando que o Variações merece toda esta atenção”, ressalva.
Como indicador, na Internet, a leiloeira nunca tinha tido tantos registos e licitações em antecipação, apesar das licitações efectivas via online terem sido reduzidas. “Temos tentado fazer leilões que suscitem interesse, ou pelo factor surpresa, ou porque são áreas novas, e isso é um factor dinamizador que, mais uma vez, se verificou. Nem o Fernando Pessoa ultrapassou os registos do Variações”, revelou. À hora do fecho desta edição, ainda decorria o leilão, pelo que não foi possível apurar quanto rendeu na totalidade.