Especialista diz que faltam assistentes sociais nos centros de saúde

“Há muitos centros de saúde sem assistente social ou que não tinham nenhum até há muito pouco tempo”, disse o docente da Universidade Católica Francisco Branco, a propósito do congresso “Intervenção social na Saúde: Planeamento da alta hospitalar”, organizado pelo Serviço Social do Centro Hospitalar de Lisboa Central, que começa hoje em Lisboa.

Francisco Branco coordenou um estudo do Centro de Estudos de Serviço Social de Sociologia da Universidade Católica, realizado há cerca de dois anos a pedido da então secretária de Estado Adjunta e da Saúde Cármen Pignatelli, que revelou um “número claramente insuficiente” destes profissionais nos cuidados de saúde primários.

Muitos dos directores de centros de saúde inquiridos manifestaram esse problema, afirmou o especialista. Por outro lado, os recursos não estavam distribuídos de uma forma muito racional. Há centros de saúdes em zonas de grande densidade populacional, com uma grande incidência de idosos e prevalência de muitas doenças e onde existe apenas um assistente social.

E há centros de saúde sem estas características com dois profissionais, exemplificou, ressalvando que este estudo foi realizado antes da actual reforma dos cuidados primários, nomeadamente a constituição dos Agrupamentos de Centros de Saúde (ACES). “Esta reforma organizativa ao nível dos cuidados de saúde primários pode atenuar este problema”, sustentou.

Nos hospitais, embora a carência de assistentes sociais aparentemente seja menor, nem sempre há um critério de racionalidade muito clara, adiantou. Para o especialista, “o serviço social é o espelho do que tem sido a política de saúde em Portugal, onde as medidas vão sendo adoptadas, nem sempre de uma forma suficientemente continuada”.

O estudo verificou ainda que o serviço social desempenha uma “enorme mais valia no Serviço Nacional de Saúde (SNS)” por ser um elemento de ligação entre diferentes serviços e por cobrir muitas lacunas e problemas do SNS, designadamente na função de facilitar o acesso dos cidadãos à saúde, agilizar o atendimento, facilitar processos de meios complementares de diagnóstico e os recursos necessários ao tratamento.

Por outro lado, acrescentou, “tem um papel muito importante na reintegração social e nos cuidados do doente após o episódio que o levou às unidades de saúde e que requer cuidados continuados, familiares ou de enfermagem”. Para Francisco Branco, um dos “grandes problemas que os assistentes sociais enfrentam é de ainda continuar a predominar nos serviços de saúde a cultura biomédica, que não valoriza os outros aspectos relacionados com a saúde”.