Duncan Jones nasceu em 1971, numa altura em que o seu pai, que nasceu com o mesmo apelido, já se fizera mundialmente conhecer com o nome de David Bowie. Uma das alavancas, talvez mesmo a alavanca decisiva, para a popularidade do pai de Duncan fora accionada dois anos antes, no mesmo ano da chegada do homem à lua: "Space Oddity", a canção que fazia um trocadilho com o título original de um célebre filme de Stanley Kubrick ("2001, a Space Odissey") e narrava as solitárias aventuras de um astronauta conhecido como Major Tom. Seja ele para levar a sério ou não, este encadeado referencial dificilmente consegue ficar de fora quando se trata de apresentar a estreia de Duncan Jones na longa-metragem.
"Moon- O Outro Lado da Lua" parece um retomar do tempo e das circunstâncias em que Duncan nasceu: a lua, a odisseia no espaço de Kubrick, a bizarria no espaço de Bowie, a solidão do astronauta.O astronauta (que é Sam Rockwell) está há demasiado tempo sozinho em missão numa base lunar. Sonha com o regresso a casa, e como não tem ninguém a quem aparecer também já perdeu aquela auto-estima básica que consiste em um tipo andar minimamente bem arranjado. Tem um cabelo e uma barba de Robinson Crusoe, mesmo se o computador central da base, parente do Hal 9000 do filme de Kubrick, se esforça para lhe fazer a "toilette" enquanto lhe fala suavemente com a voz de Kevin Spacey. E está neste estado de coisas quando encontra o seu próprio duplo, coisa que lhe suscitará as naturais dúvidas suscitadas por casos destes, nomeadamente esta: e se for ele o duplo do outro?O que, para além do tecido alusivo, é verdadeiramente curioso - ou, digamos, ludicamente curioso - em "Moon" é o encontro de uma ficção científica com um vago sabor retro (anos 60, anos 70), assente numa minúcia descritiva que tem prazer em não confundir o realismo com a impressão de realismo (os objectos como brinquedos, toda aquela lua como uma grande "maquette"), com uma ficção científica "metafísica", carregada de paradoxos existenciais, que tanto vem da frieza austera da "ficção científica de Leste" (os duplos do "Solaris" de Tarkovski) e das preocupações do "2001" de Kubrick e Arthur C. Clarke como do engenho "low budget" de coisas como o "Espaço: 1999" que Duncan Jones deve ter visto quando tinha 5 ou 6 anos (a "maquette" lunar é do mesmo tipo, e se não nos enganamos havia um episódio em que era a própria a lua, assim como a base e os seus ocupantes, que encontrava a sua perfeita duplicação). É a situação, mais do que a narrativa. Duncan Jones deixa-a empastelar-se (à narrativa), o que é o seu maior problema, até porque manifestamente está mais interessado na "simulação metafísica", e no seu carácter remissivo, do que em "fazer metafísica" com convicção. O que de certo modo é um alívio, mas não impede que o filme passe, a partir de certa altura, a girar sobre a sua própria "maquette", sem nada de realmente consistente a que se agarrar.
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