África leva a Copenhaga o sonho de uma “grande muralha verde” contra o deserto
A ideia desta barreira de vegetação acompanhada por bacias de retenção para armazenar água da chuva, com sete mil quilómetros de extensão e 15 de largura, foi lançada pelo antigo Presidente nigeriano Olusegun Obasanjo. Depois foi adoptada pelo seu homólogo senegalês.
O projecto, ao qual estão associados onze países – Mauritânia, Mali, Burkina Faso, Níger, Nigéria, Chade, Sudão, Etiópia, Eritreia e Djibuti - liderados pelo Senegal, ainda tem resultados demasiado modestos: apenas dez quilómetros de “muralha verde” foram plantados, reconheceu o ministro senegalês do Ambiente, Djibo Ka, durante uma cerimónia na cidade de Labgar (no Norte do país), à AFP.
“Plantámos espécies locais que se adaptam bem”, explicou o coronel Matar Cissé, director da Agência nacional da grande muralha verde. “Mas o maior desafio é proteger as plantações do gado. É preciso fazer vedações e corta-fogos”, precisou.
África é o continente mais vulnerável às alterações climáticas. Segundo a FAO (organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura), as florestas da zona do Sahel estão a desaparecer ao ritmo preocupante de cerca de dois milhões de hectares por ano. O aquecimento global só irá agravar o fenómeno, causando migrações de populações nos países já de si pobres e instáveis.
África espera financiamento para o projecto em CopenhagaCom este ambicioso programa, “a África assume as suas responsabilidades com respostas eficazes” para enfrentar as alterações climáticas, disse o ministro.
“A África não irá de mãos vazias à cimeira de Copenhaga. O projecto da grande muralha verde estará no coração do debate e será apresentado pelo Presidente (senegalês) Abdoulaye Wade”, adiantou. “É um sonho que começa a tornar-se realidade”, afirmou.
O maior obstáculo ao projecto é o financiamento. “Esperamos compromissos sérios, importantes e claros” na cimeira de Copenhaga (de 7 a 18 de Dezembro), declarou Djibo Ka.
Mas o projecto da “grande muralha verde” não chega a reunir o consenso dentro do próprio Senegal. “Não acredito neste projecto. Não há vontade política porque abatem-se árvores por todo o lado (no Senegal)”, denunciou o ecologista Haïdar El Ali, da principal associação de protecção do Ambiente do país, a Océanium.