Palácio Pombal no Chiado reabre com vocação para as artes

Antiga sede cultural de instituição de ensino superior, um imóvel do século XVIII, dá-se a conhecer com oferta cultural

O Palácio Pombal, situado na Baixa lisboeta, na popular Rua do Alecrim, abriu ao público esta semana, apresentando um diversificado cartaz cultural. O palacete, onde durante vários anos funcionou o Instituto de Artes Visuais, Design e Marketing (IADE), chama-se agora também IADE Chiado Center e volta novamente a acolher, a partir da segunda quinzena deste mês, um curso prático de conservação e restauro de pintura mural do século XIX, aberto não somente aos alunos do instituto, como ao público em geral, tal como aconteceu nos meses de Setembro e Outubro.

O palacete pombalino não tem estado aberto ao público. Contudo, a partir desta semana começará a fazer o horário das 8h às 22h, afirmou ao PÚBLICO a técnica Ilda Nunes, a única portuguesa que integrou a equipa que restaurou a Capela Sistina, em Roma, e que foi convidada pelo IADE para directora do palácio.

"O objectivo é inserir o palácio no roteiro cultural de Lisboa num curto período de tempo", revelou a directora artística, que conta com o apoio do artista plástico Pedro Correia na dinamização do edifício pombalino. "Estabelecemos uma meta, até ao final do ano, e temos uma série de eventos já agendados. Já estamos a fazer marcações para Março", acrescentou.

"Vamos ter aqui uma série de iniciativas: desde exposições, concertos, lançamentos de livros, workshops, teatro", referiu Ilda Nunes, destacando um workshop de desenho, orientado por um artista plástico, que se realizará em quatro quartas-feiras consecutivas. Esta oficina de trabalho tentará criar ambientes diferentes. "As pessoas desenham de olhos vendados ou ao som de música", explicou a directora artística do palácio.

Abrir ao público

Ilda Nunes considera que seria "um crime" este palácio pombalino continuar fechado ao público, pelo que deseja, por isso, valorizá-lo. "Vamos testar as nossas valências técnicas, as nossas dificuldades, e também as nossas falhas", disse.

Ao mesmo tempo que se desenvolvem actividades culturais e cursos de conservação e restauro, há também a oportunidade, por parte das empresas, de alugar algumas salas do palácio "para reuniões, congressos e para seminários", referiu a directora do palacete. "São as duas vertentes que tentamos conjugar aqui no palácio, para além das aulas [do IADE] que ainda funcionam cá".

Paralelamente às funções de direcção do IADE Chiado Center, Ilda Nunes tem ainda como responsabilidade a coordenação do Curso Prático de Conservação e Restauro de Pintura Mural do Século XIX. Em algumas salas do palácio, a pintura mural que ornamenta todas as paredes encontra-se em avançado estado de degradação, pois não tem existido qualquer trabalho de conservação ao longo dos anos. Ilda Nunes explicou que a ideia é fazerem-se várias edições seguidas do curso, pois, "dessa forma, vamos recuperando o palácio" e os alunos sentem "que deixaram aqui um contributo" seu.

O curso de iniciação funcionava todos os dias úteis e "tinha uma componente teórica, mas era essencialmente prático", explicou. Havia a possibilidade de os alunos trabalharem "directamente em obra real" e não por simulação, como normalmente acontece. A especialista na área faz um balanço muito positivo do primeiro curso, que se realizou nos meses de Setembro e Outubro, e que contou com a participação de alunos de diferentes faixas etárias: "Dos 19 anos aos 50, mesmo pessoas que nunca estiveram ligadas ao restauro e pessoas que trabalham em restauro há 20 anos, passando também por alunos das licenciaturas de Conservação e Restauro", revelou ao PÚBLICO. "Foram diferentes realidades, diferentes experiências que se cruzaram. Os alunos estavam muito motivados, pelo que o trabalho correu da melhor maneira".

Em Portugal como em Itália

Este curso poderá levantar alguma contestação, devido ao facto de Ilda Nunes estar a colocar pessoas sem experiência a restaurar pinturas murais do século XIX.

"Se os italianos põem pessoas sem experiência a trabalhar na Capela Sistina, por que é que nós cá não podemos fazer isto neste palácio?", questionou a especialista em Restauro, relembrando o seu caso particular em Roma e garantindo que no Palácio Pombal "não houve erros, e também não houve danos a lamentar".

Ilda Nunes estava a estudar em Roma quando resolveu inscrever-se num curso de restauro da Capela Sistina, pensando inicialmente tratar-se de um curso meramente teórico. Só mais tarde percebeu, algo incrédula, "que iria tocar na obra de Miguel Ângelo, que ali iria trabalhar", recordou, emocionada. Tinha 19 anos e não tinha qualquer experiência em restauro.

Ilda classificou a oportunidade como "fascinante", admitindo que "o sentido de responsabilidade era muito grande". A mesma responsabilidade que, diz, sentiu "por parte dos alunos que aqui têm trabalhado". Passados dez anos, considera que esse trabalho acabou por ser um grande trampolim para o seu futuro.

Para mais informações sobre o Curso Prático de Conservação e Restauro de Pintura Mural: academias@iade.pt.

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