Cartas inéditas de T.S. Eliot desmentem fama de marido cruel e insensível

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As cartas deitam por terra muitas das teorias sobre T. S. Elliot Khrawling's

As cartas, referidas pelo jornal britânico “The Sunday Times” na sua última edição, mostram um Eliot crescentemente desesperado com os problemas médicos de Vivien, com a qual se tinha casado em 1915, aos 26 anos.

Numa das cartas, enviada ao romancista e crítico John Middleton Murry, Eliot conta que a mulher passara tão mal que durante três dias ele tivera a sensação de que a mente lhe abandonara o corpo.

Eliot descreve a sua própria angústia: “Matei deliberadamente os meus sentidos, matei-me deliberadamente, para poder continuar com esta vida que é apenas exterior”.

A fama do marido insensível que acabaria por internar a mulher num asilo psiquiátrico deve-se muito à obra de teatro “Tom e Viv”, de Michael Hasting, estreada em 1984 e transposta para o cinema com Willem Dafoe no papel de Eliot e Miranda Richardson no de Vivien.

As cartas, compiladas com a ajuda da segunda mulher do poeta, Valerie, serão publicadas esta semana no Reino Unido.

Eliot, empregado no banco Lloyds de Londres, continuou o seu trabalho, de que não gostava, porque necessitava de ganhar dinheiro para manter na clínica a mulher doente, e ao mesmo tempo escrevia poesia e ocupava-se da revista literária “The Criterion”.

O responsável da publicação das cartas, John Haffendon, disse não estar seguro de que as cartas possam ser tomadas “à letra”, mas reconheceu que “estas e muitas outras deixam bem claro o seu desespero e a sua angústia”.

Há também cartas da própria Vivien em que expressa ao poeta a sua preocupação e o seu amor por ele. Numa delas, datada de 1925, Vivien pede-lhe que a desculpe por o torturar e enlouquecer.

Um mês mais tarde, Vivien escreveu à criada do casal, Ellen, a pedir-lhe que dissesse ao marido que o amava e o amaria sempre.

Segundo o editor das cartas, tanto Eliot como a mulher estavam doentes, mas o certo é que ele e o cunhado acabaram por interná-la num asilo psiquiátrico, onde permaneceria entre 1938 e 1947, um ano antes de o poeta ser distinguido com o Prémio Nobel de Literatura.

Sabe-se também que Eliot nunca a visitou na clínica, embora continuassem casados.

O segundo lote de cartas será publicado dentro de dois anos, e uma das principais revelações, assinalou o editor, é a de que Eliot, considerado um anti-semita, tinha amigos judeus.

A correspondência cruzada com um dos seus amigos, o académico norte-americano Horace Kellen, mostra que, durante a Segunda Guerra Mundial, o poeta ajudou refugiados judeus a fugirem para os Estados Unidos. “Não há provas de anti-semitismo algum na correspondência que examinei”, asseverou Haffenden.

Opinião diferente tem Anthony Julius, autor de um livro em que analisa os alegados sentimentos anti-semitas na obra Eliot e concretamente em poemas como “Gerontion”, “Burbank with a Baedeker: Bleistein with a Cigar” e “Sweeney among the Nightingales”.

Eliot, disse Julius ao "The Sunday Times", “fez eco dos lugares comuns existentes sobre os judeus e utilizou-os criativamente na sua poesia. Mas claro que é possível ter, ao mesmo tempo, amigos judeus. Todos temos as nossas contradições”.