Será “indesculpável” se o Governo não aprovar o casamento entre pessoas do mesmo género
“Acredito que a questão será resolvida nesta legislatura, não poderá ser de outra forma, seria de todo indesculpável e uma surpresa”, afirmou a socióloga, que falava à Lusa após abordar o tema “Olhares mediáticos sobre o activismo LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e transgéneros) em Portugal”, no congresso internacional “Género, Media e Espaço Público”, a decorrer hoje e sexta-feira em Coimbra.
A investigadora da Universidade de Londres e do Centro de Estudos Sociais (CES) da Universidade de Coimbra frisou que a promessa “já vem atrasada e tanto a sociedade civil como a comunidade internacional não perdoariam a Portugal, ao Governo socialista, um recuo nesta matéria”.
“Basta pensarmos no exemplo espanhol, país aqui ao lado, com um passado de ditadura de direita, com um peso da Igreja Católica bastante acentuado, mas onde nada serviu de desculpa ao governo de Zapatero para adiar uma questão de direitos humanos”, observou Ana Cristina Santos, sublinhando que a lei espanhola inclui também o direito à adopção.
Nos últimos anos, Portugal tem revelado uma evolução positiva na cobertura jornalística das acções do movimento LGBT, que se tornou “mais justa, inclusiva e objectiva”, mas “há ainda um longo caminho a percorrer”, na opinião de Ana Cristina Santos.
“Há uma transformação positiva, mas falta um caminho longo, sobretudo no deixar de objectivar o activismo, as causas LGBT, perceber que são causas de direitos sexuais e, como tal, de direitos humanos, que dizem respeito a todos, independentemente da orientação sexual”, sustenta.
A investigadora acrescenta que, quando “políticos, jornalistas, professores, todas as pessoas perceberem que é de interesse geral e humano acolher a diversidade, todos terão a ganhar”.
A questão do género no tratamento jornalístico dos media espanhóis foi o tema central da comunicação de Joana Gallego, da Universidade Autónoma de Barcelona, presente no mesmo congresso.
A investigadora, que participa num estudo sobre o estatuto feminino nos meios de comunicação, criticou o facto de as mulheres serem apresentadas como “objectos de observação”, sem individualidade, ao contrário dos homens, referenciados como “protagonistas da informação”. “As mulheres não têm uma individualidade. Quando são notícia saem primeiro como mulher e depois como notícia”, compara, referindo alguns títulos: “Nobel da Economia distingue pela primeira vez uma mulher” e “A UE busca uma mulher para melhorar a sua imagem”.
Para Joana Gallego, esta abordagem em que a mulher “nunca actua em nome próprio mas de um colectivo” “não ajuda à igualdade do género” e os meios de comunicação tornam-se “sancionadores sociais”.