Há mais ideias e mais vontade de correr riscos em dez minutos do terceiro filme de João Pedro Rodrigues do que em noventa por cento do cinema - português e não só - que vemos durante doze meses.
Mas isso não chega quando elas não conseguem ser articuladas correctamente: "Morrer como um Homem" é um objecto desconcertante, inclassificável, francamente desequilibrado, que vai do sublime ao confrangedor no espaço de um mesmo plano e que desbarata a sua essência na sua sofreguidão desmesurada de querer ser ao mesmo tempo falso musical-karaoke queer à sombra de Demy e Resnais, melodrama lacrimejante da/o desgraçadinha/o, e tragédia existencialista do amor abnegado e transcendente.
É um "caderno de esboços" à procura de uma identidade, interminável e indulgente mesmo que sincero, sumptuoso, formalmente notável. Só que é preciso algo mais do que formalismo e experimentação e quando a última meia hora revela finalmente o filme que "Morrer como um Homem" nunca chegou a ser, já desligámos há muito.