Torne-se perito

Moçambicano João Paulo Borges Coelho?é o vencedor do Prémio Leya

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Borges Coelho nasceu no Porto mas vive em Moçambique dr

Entre as 11 obras finalistas, o júri escolheuO Olho de Hertzog, uma história passada na I Guerra Mundial no Norte de Moçambique

Apesar de "não ter a menor fé numa coisa desse tipo", o escritor moçambicano João Paulo Borges Coelho deixou-se convencer pela mulher e enviou o seu romanceO Olho de Hertzog para o júri do Prémio Leya. Ontem, ao saber que tinha vencido a 2.ª edição deste prémio, com o valor monetário de 100 mil euros, o mais elevado para escritores de língua portuguesa, sentia-se "nas nuvens".

A confissão da falta de fé inicial foi feita pelo telefone, a partir de Maputo, para a sala de um hotel em Lisboa, onde o júri, jornalistas e editores ouviram, logo a seguir ao anúncio do prémio, as primeiras palavras do vencedor, nascido no Porto em 1955 de pai transmontano e mãe moçambicana mas desde criança a viver em Moçambique.

Minutos antes, Manuel Alegre, presidente do júri, explicara por que é que, entre as 11 obras que lhes chegaram às mãos depois de uma pré-selecção feita pelos editores da Leya entre 201 originais concorrentes, os membros do júri (o escritor e jornalista brasileiro Carlos Heitor Cony, o professor de Literatura Portuguesa José Carlos Seabra Pereira, o reitor da Universidade Politécnica de Maputo Lourenço da Costa Rosário, os escritores Nuno Júdice e Pepetela e a crítica literária brasileira Rita Chaves) optaram pela de Borges Coelho.

O romance vencedor é, diz a declaração do júri, "de grande intensidade, em que se conjugam a complexidade das personagens, a densidade da trama narrativa e a busca de O Olho de Hertzog, que é, de certo modo, uma metáfora da demanda do destino individual e colectivo do nunca desvendado mistério do ser".

A história, resumiu depois o autor pelo telefone, situa-se entre os anos de 1914 e 1919, em plena I Guerra Mundial e no Norte de Moçambique, onde tropas alemãs combatem contra as tropas portuguesas e inglesas. "É sobretudo um livro sobre a cidade de Lourenço Marques, é uma descoberta da cidade naquela altura."

Mas é mais do que isso, acrescenta a declaração do júri: é também um livro sobre "o confronto entre africânderes e ingleses, a emigração moçambicana para a África do Sul, a reacção dos mineiros brancos, as primeiras greves dos trabalhadores negros e a emergência do nacionalismo moçambicano, nomeadamente através da imprensa e dos editoriais do jornalista João Albasini".

Quem concorre ao Prémio Leya sujeita-se a uma "prova cega" - o júri só sabe o nome do autor depois de escolhida a obra vencedora. E, noentanto, segundo o administrador delegado do Grupo Leya, Isaías Gomes Teixeira, "a maioria dos finalistas são autores consagrados". É o caso de Borges Coelho, que tem várias obras publicadas na Caminho, entre as quais As Duas Sombras do Rio(2003) eAs Visitas do Dr. Valdez (2004).

Este ano houve menos obras a concurso, reconheceu Isaías Gomes Teixeira, mas "a qualidade foi muito elevada".

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