Obama ainda não decidiu qual será a nova estratégia no Afeganistão

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Até ao final do ano, os EUA terão 68mil militares no terreno Nikola Solic/REUTERS

Ontem, Obama esteve reunido com legisladores de ambos os partidos, com quem discutiu a situação no Afeganistão e as diversas possibilidades em termos de revisão da estratégia. O Presidente garantiu que nenhum dos cenários actualmente em discussão envolve a redução do contingente militar americano ­— que já no passado mês de Março foi reforçado com mais 21 mil homens e terá, no final do ano, 68 mil soldados.

Num encontro promovido pela CNN na Universidade de George Washington, o secretário da Defesa Robert Gates confirmou que a retirada do Afeganistão “simplesmente não é uma opção neste momento”.

Obama também terá dito que a Administração não pretende alterar o âmbito da missão, que neste momento é de contra-insurreição, para uma de contra-terrorismo. A primeira implica uma presença sigificativa e continuada de soldados no terreno; a segunda assenta em intervenções “cirúrgicas”, que tanto podem ser acções localizadas de forças especiais, como podem ser ataques de mísseis telecomandados. Essa é a nova via defendida pelo vice-presidente Joe Biden, que considera que o foco da missão americana deve ser a eliminação da hierarquia da Al-Qaeda e não a luta contra os Taliban.

No final do encontro na Casa Branca, democratas e republicanos concordaram na sua avaliação e manifestaram total disponibilidade para apoiar a decisão do Presidente — qualquer que seja, terá de ser submetida a votação no Congresso, a quem compete o financiamento da guerra.

Mas os dois partidos expressaram algumas reservas, que dão conta das suas diferentes concepções da missão no Afeganistão. Os democratas levantaram a questão do apoio ao governo do Presidente Hamid Karzai. “O problema da sua legitimidade política é importante, porque uma parte da estratégia assenta na existência de um governo mais popular do que os Taliban”, comentou a speaker do Congresso, Nancy Pelosi.

Já os republicanos exigiram que o Presidente fosse mais expedito na resposta às recomendações dos comandantes no terreno, e mostrasse maior determinação na derrota dos insurrectos, dotando a operação com mais recursos. “É muito claro que o tempo não está do nosso lado”, sublinhou o senador do Arizona John McCain.

Até agora, a voz mais proeminente na defesa do reforço das tropas tem sido o líder da operação militar americana no Afeganistão, general Stanley McChrystal — numa atitude pouco usual e que já lhe mereceu severas críticas por parte das chefias civis do Pentágono e da própria Casa Branca, que prefere ver as “minudências” relativas à revisão da estratégia discutidas em privado.

O general defende o destacamento de mais 40 mil homens para o Afeganistão, com o argumento que a janela de oportunidade para derrotar os Taliban é muito pequena: serão os próximos doze meses que determinarão o sucesso ou a derrota da missão, considerou.

Uma sondagem da Associated Press revela um declínio no apoio à guerra entre os americanos: só 40 por cento concordam com a missão militar no Afeganistão (menos quatro pontos do que há um mês) e 57 por cento discordam. Um outro inquérito do USA Today/Gallup Poll, publicada ontem, revela que o público considera que as tropas americanas foram bem sucedidas no enfraquecimento das redes terroristas no Afeganistão, mas duvida que seja possível uma “vitória” naquela guerra.

Questionados sobre os progressos alcançados oito anos após o início da guerra, 55 por cento dos inquiridos disseram que a missão foi bem sucedida em evitar o lançamento de novos ataques terroristas e 51 por cento considerou que conseguiu impedir o regresso dos Taliban ao poder. Mas só 32 por cento consideraram que os Estados Unidos podiam ajudar a construir uma democracia estável no Afeganistão.

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