Sócrates promete governar com o seu programa mas não fecha portas a coligações

Socialistas querem estabilidade e apelam à responsabilidade dos outros partidos. Alegre alerta para a necessidade de se corrigirem políticas

José Sócrates falou em "extraordinária vitória eleitoral", prometeu que o PS governará "com o seu programa eleitoral" mas não adiantou nem uma vírgula sobre como conseguirá a "estabilidade que esta legislatura merece". Se na pré-campanha deixou antever a vontade de governar sozinho, mesmo sem maioria absoluta, ontem não fechou a porta a nenhum tipo de acordo, nem sequer a coligações.

Para já, preferiu lembrar os procedimentos que se seguem às eleições: a indigitação do primeiro-ministro pelo Presidente da República e, a seguir, reuniões com todos os outros partidos com assento parlamentar, "como julgo ser o dever do partido" sobretudo sem maioria absoluta. "É cedo para saber que soluções governativas sairão das conversações" com os restantes partidos políticos, salientou.

Ao final da noite eleitoral, já os outros líderes partidários tinham reagido aos resultados - à excepção de Paulo Portas -, o secretário-geral do PS preferiu acentuar o lado positivo da vitória socialista. "O povo falou bem claro e sem ambiguidades", começou por afirmar, acrescentando mais tarde que "o PS assumirá a responsabilidade que o povo entendeu conferir" - uma maioria relativa -, mas a "responsabilidade de governar com o nosso programa eleitoral que obteve o apoio dos portugueses".

Questionado pelos jornalistas sobre se acredita que um governo saído destas eleições tem condições para durar quatro anos, José Sócrates defendeu que "a estabilidade é um valor que merece ser respeitado", tanto mais perante os "sérios desafios que o país enfrenta".

A palavra responsabilidade havia de ser uma das mais repetidas por muitos dirigentes socialistas, mas sobretudo dirigida aos partidos da oposição. "Não há dúvida que este quadro parlamentar significa um grande apelo à responsabilidade de todos", afirmou Pedro da Silva Pereira, ministro da Presidência e um dos mais próximos de José Sócrates. "O PS está disposto a assumi-la e espera que os outros partidos estejam à altura dessa responsabilidade", acrescentou.

No mesmo sentido vai um dos maiores opositores internos de José Sócrates, António José Seguro: "É preciso que os partidos sejam responsáveis e em função dos resultados que tiveram contribuam para condições de estabilidade. Isso depende também das iniciativas positivas que tenham no parlamento".

Seguro defendeu, no entanto, que o PS "deve ser fiel ao seu programa eleitoral", uma preocupação que varreu muitos notáveis do partido. Jaime Gama, um dos representantes da ala direita do partido, não escondeu alguma preocupação com o tipo de acordos pós-eleitorais, ao afirmar que "é essencial manter um rumo de coerência para a saída e não pretender confiscar no dia seguinte às eleições aquilo que foi a escolha do povo".

Pela ala mais à esquerda, Manuel Alegre também deixou claro que prefere ver negociações à esquerda. "Não há condições para grandes acordos parlamentares, mas havendo uma maioria de esquerda no Parlamento, os acordos devem ser procurados essencialmente aí", disse ao PÚBLICO. Mas foi mais longe, ao afirmar que a estabilidade "depende das políticas que o PS apresentar, porque ninguém vai passar cheques em branco a ninguém". E deixa um recado claro a José Sócrates: "Espero que haja mudança de atitudes e que as políticas sejam corrigidas. O PS tem de pensar no que o levou a perder a maioria absoluta".

Mas essa é uma questão aparentemente já resolvida pelo núcleo duro do PS. Ao bater das 20 horas, mal as televisões avançaram com as projecções, o coordenador eleitoral, Vieira da Silva, fazia essa leitura. "Depois do governo ter feito exigentes reformas, ter sido abalado pela mais grave crise internacional das últimas décadas e dos resultados negativos das Europeias, o PS tem razões para estar satisfeito com o resultado", afirmava.

E estava. Satisfeito com os resultados e sobretudo consigo próprio."Foi a vitória de uma campanha feita pela positiva, em nome de um projecto", repetiu José Sócrates, dentro e fora do Altis. "O povo valorizou a atitude de quem não se candidatou contra ninguem, mas para servir Portugal e os portugueses, a atitude de quem mostrou confiança no futuro e ambição para o país. Foi a vitória da decência e elevação na política", sublinhou.

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