Morreu Susan Atkins, uma das "raparigas de Charles Manson"
Condenada por vários crimes, entre os quais o do assassínio da actriz Sharon Tate, mulher do realizador Roman Polanski, Atkins passou 40 anos na prisão, onde se converteu ao catolicismo
No dia 2 de Setembro, Susan Atkins foi levada de maca a uma audiência no tribunal onde o seu pedido de liberdade condicional foi recusado. Nessa altura o seu estado era já considerado terminal - na quinta-feira passada morreu, aos 61 anos, vítima de um tumor no cérebro, na prisão para mulheres de Chowchilla, na Califórnia.
Porque é que, mesmo sabendo que Atkins tinha poucas semanas de vida (recentemente tinha-lhe sido amputada uma perna), lhe foi recusado, pela 18ª vez, o pedido? Atkins foi uma das seguidoras de Charles Manson, o líder de um culto macabro que custou a vida a várias pessoas, entre as quais a actriz Sharon Tate, mulher do realizador Roman Polanski, brutalmente assassinada quando estava grávida de oito meses. Atkins ajudou a matar Tate e, mais tarde, em tribunal, contou, sem sinais de remorsos, como, enquanto a actriz lhe implorava que a poupasse e à criança que ia nascer, ela lhe respondeu: "Mulher, não tenho qualquer piedade por ti".
Apesar de nos últimos 40 anos, Atkins se ter convertido ao catolicismo e se ter tornado uma prisioneira modelo, os familiares das vítimas e os seus advogados continuam a ir a cada nova audiência de pedido de liberdade condicional para lembrar que há 40 anos Atkins e os amigos não mostraram piedade pelas vítimas.
Susan Atkins - que, enquanto membro da "Família", recebeu o nome de Sadie Mae Glutz - tinha 21 anos quando os crimes foram cometidos: duas noites de uma orgia de violência, a primeira a 8 de Agosto de 1969, na qual foram mortos, em casa de Sharon Tate, para além desta, quatro outras pessoas; e a segunda no dia seguinte, em que as vítimas foram o casal Leno e Rosemary LaBianca.
Susan fazia parte do grupo de seguidores de Manson que vivia num rancho isolado em San Fernando Valley, na Califórnia. Nascida em 1948, foi durante a adolescência uma rapariga discreta que cantava no coro da escola. Quando tinha 15 anos a mãe morreu com um cancro e a partir daí a vida familiar entrou em colapso (Susan contou durante o julgamento que mesmo antes disso tanto o pai como a mãe eram alcoólicos e que ela fora vítima de abusos sexuais por parte de um familiar), com o pai a mudar frequentemente de cidade e deixando os filhos entregues a familiares. A instabilidade acabou por levar Susan a partir para São Francisco onde fez amigos entre a comunidade hippie.
Quando conheceu Manson este convidou-a para fazer parte da "Família" e ir viver para o seu rancho, onde os membros do grupo consumiam drogas e mantinham relações sexuais uns com os outros. Em 1968, Susan ficou grávida e teve um rapaz. Manson (que não era o pai do bebé) baptizou-o como Zezozose Zadfrack Glutz. Mais tarde, depois do julgamento, a criança foi retirada a Susan, e foi dada para adopção, passando a ter um novo nome e cortando todo o contacto com a mãe.
Mudança radicalAs fotografias mais recentes de Atkins, do início do mês, mostram uma mulher envelhecida, de rosto redondo e um gorro de lã na cabeça, deitada numa cama. É impossível reconhecer nela a rapariga magra, de longos cabelos, que em 1969 apareceu no tribunal, com uma atitude de desafio, ao lado de Patricia Krenwinkel e Leslie Van Houten, as suas companheiras da seita (as três eram conhecidas como "as raparigas de Manson"), também condenadas pelos assassínios de Sharon Tate e dos amigos, e do casal LaBianca e que continuam a cumprir pena.No julgamento Susan explicou que o rancho de Manson era um lugar "de amor", que na noite dos assassínios estava sob o efeito de drogas e que não sabia porque é que tinha esfaqueado Tate. "Como é que isso pode não estar certo se é feito com amor?", perguntou. Inicialmente condenadas à morte, as três raparigas viram as sentenças transformadas em prisão perpétua por causa da alteração da lei na Califórnia.
Nas últimas décadas, o seu discurso mudou radicalmente. Susan - que se casou por duas vezes na prisão, a primeira com um milionário excêntrico, Donald Lee Laisure, do qual se divorciou rapidamente, e uma segunda, em 1987, com James Whitehouse, que foi seu advogado e com quem permaneceu casada até morrer - disse em 1993 que "é quase impossível compreender a demência, e era assim que eu vivia, na demência".
Depois da sua morte, o marido escreveu no site que mantém sobre ela que "ninguém na Terra trabalhou tão duramente como Susan para corrigir um erro incorrigível".