Portugueses vão ajudar a trazer rochas de Marte
A missão Mars Sample Return, da Europa, tenciona trazer 500 gramas de solo marciano
Terra, ano 2020: está a partir para Marte uma missão com o objectivo de trazer, pela primeira vez, amostras de solo e rochas marcianas para o nosso planeta. Cientistas portugueses estão envolvidos nesta missão da Agência Espacial Europeia (ESA).
Este bem pode ser o primeiro parágrafo de uma notícia que, se correr sem os tradicionais atrasos com as missões espaciais, levará mais de uma década a concretizar-se, mas já está em desenvolvimento. A participar na missão Mars Sample Return estão portugueses, como é o caso da empresa LusoSpace, que esta semana fez um teste em Portugal a um instrumento que desenvolve no âmbito de um consórcio liderado por uma empresa alemã.
Trata-se de um instrumento de medição da distância entre duas naves, para que consigam acoplar. De facto, a missão Mars Sample Return é complexa. Faz lembrar as matrioskas. Quando descolar da Terra, uma grande sonda, composta por várias partes que sairão umas das outras, dirigir-se-á para a órbita de Marte. Uma vez lá, uma parte vai manter-se em órbita, enquanto outra descerá na superfície marciana, explica o engenheiro físico Ivo Vieira, sócio da LusoSpace.
Depois de recolher rochas e solo - fala-se em 500 gramas -, uma parte do módulo espacial será deixado em Marte, enquanto outra sairá do planeta com as amostras, indo juntar-se à nave que se manteve na órbita marciana. É nesta fase que entrará em acção o instrumento desenvolvido com a participação da LusoSpace.
A certa altura, o módulo que saiu de Marte largará uma bolinha reflectora que ficará também em órbita. É nessa bola, de 30 centímetros de diâmetro, que seguem as amostras. Então, a nave em órbita irá fazer tudo para apanhar a bola, aproximando-se dela, controlando a sua velocidade e acoplando. Para isso, necessita de um instrumento de medição das distâncias. Este instrumento, com um feixe de laser que bate na bola e reflecte, medirá até cinco quilómetros.
Os testes desta semana, na zona de Alcochete, com a presença de um responsável da ESA, simularam esse encontro entre a nave e a bola. Num carro em movimento estava uma bola reflectora, enquanto num carro parado na outra ponta da estrada se encontrava o equipamento laser.
"É preciso provar que é possível fazer a acoplagem automática entre duas naves", diz Ivo Vieira. "A inovação consiste na possibilidade de medir distâncias até cinco quilómetros com precisões de alguns centímetros."
Como foi o teste? "Ainda não conseguimos ir até à distância que queríamos, por causa de uma avaria."
Diga-se que há mais portugueses envolvidos noutros projectos da Mars Sample Return, através do desenvolvimento de softwarepara os sistemas de navegação (da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e da empresa Deimos Engenharia).
Com a chegada das amostras à Terra, o grande objectivo será detectar a presença de água e vida microscópica, fóssil ou não. Todo o cuidado será pouco para que a Terra não seja contaminada por formas de vida de Marte ou vice-versa. Certo é que essas amostras serão únicas. "Serão mais valiosas do que as rochas da Lua."