Ele é o idiota de que todos os americanos falam
Ele é o homem que chama racista a Obama em directo na televisão, que cada vez que publica um livro chega ao top de vendas do
No dia 28 de Julho, Glenn Beck tinha sido convidado para participar no talk show Fox and friends , da cadeia de TV Fox, onde Beck tem o programa Glenn Beck Show . O ambiente aqueceu quando, falando sobre o Presidente Barack Obama, Beck soltou uma farpa: "Várias vezes ele mostrou que tem um ódio profundo às pessoas brancas e à cultura branca, não sei o que é..." E continuou, depois de confrontado por outro comentador presente com o facto de Obama ter escolhido tanta gente branca para a sua equipa: "Não digo que não goste de gente branca, mas este tipo tem um problema, ele é, acho eu, racista".
Quem é o homem que chama racista ao Presidente dos Estados Unidos? Quem é Glenn Beck, a quem a última edição norte-americana da Time , que tantas vezes, nos últimos tempos, escolheu Obama para a capa, decidiu dar a mesma honra, colocando a sua cara em grande plano e chamando-lhe Mad man ? A Time pergunta ainda: "Será Glenn Beck mau para a América?"
Marcado pelo suicídio da mãe e de um irmão, e pela morte súbita de outro de ataque cardíaco, Beck, com 45 anos, diagnosticado como hiperactivo, tem no currículo um passado de alcoolismo e a sua primeira mulher deixou-o sob a acusação de ser também dependente de drogas. Com quatro filhos, de dois casamentos, Beck ultrapassou o problema do álcool, é até seguidor da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias (que proíbe o consumo de álcool) e vive numa moradia milionária no Connecticut, cercada por um muro de dois metros, que o defende das "audiências descontentes". De Glenn Beck sabe-se ainda que se descreve como um "libertário conservador", que apoia o livre acesso às armas e renega o Protocolo de Quioto e um sistema nacional de saúde para todos os norte-americanos.
Os sentimentos de muitas celebridades dos media norte-americanos em relação a Glenn Beck não cabem propriamente no âmbito do elogio. "Um saco de caca de cão, mentiroso", diz a actriz Whoopy Goldberg. "Um vampiro", acrescenta a também actriz Roseanne Barr. "Nem em sonhos um bombista-suicida poderia fazer pior a este país do que Glenn Beck faz todos os dias", garante o pivô e comentador político da NBC Keith Olbermann. Mais directa é a revista de divulgação científica Discover : "Glenn Beck é um idiota".
O profeta Mas há uma coisa que ninguém nega a este homem: a sua capacidade de comunicação. Beck consegue, com lágrima fácil e emoção na voz, prender a audiência ao discurso, com laivos de profeta. Amante de rádio, começou a perceber o poder de ter um microfone à frente quando tinha apenas 13 anos. Foi um animador apreciado dos famosos modelos Top 40 da rádio norte-americana, percurso que partilha com outros apresentadores famosos dos Estados Unidos, como Rush Limbaugh, outro dos homens fortes da rádio, conhecido pelos comentários de direita e pró-republicanos. "Ele ama a rádio", diz o produtor de rádio e seu guionista Steve "Stu" Burguiere.E o sucesso, expresso em audiências do seu Glenn Beck Program , na rádio, e do Glenn Beck Show , na Fox News, também ninguém pode negar: mais de 2,5 milhões assistem ao programa, o que é considerado muito bom na América de hoje. E o site de Beck na Internet já atingiu os cinco milhões de utilizadores únicos por mês, o podcast dos seus programas tem 1,5 milhões de downloads semanais e o merchandising do apresentador factura três milhões de dólares por ano.
Há ainda os livros. Apesar de muitos desconfiarem que haja ali uma linha que seja escrita por Beck - quase todos sabem que o seu guionista Steve "Stu" Burguiere é o principal (mas não o único) autor dos escritos - Beck consegue chegar quase sempre ao primeiro lugar do top de vendas do New York Times e ficar por lá semanas consecutivas.
O quarto da maldição A Time jura que quando falou com Gleen Beck a última vez, em 2008, o discurso deste galvanizador de audiências em relação ao futuro da América, à política e a Obama era um pouco diferente. "Não sou fã de Obama, mas sou fã do nosso país. Temos de o ajudar a ser bem sucedido. Se ele falhar, nós falhamos", disse então. Mas hoje o seu discurso é mais radical. E fala de medo: "Eu tenho medo. Vocês deviam ter medo também", diz várias vezes no seu programa, quando se fala da conjuntura política e económica dos EUA e do resto do mundo. O seu discurso baseou-se de tal maneira na tese do medo que os colegas da Fox chamam ao estúdio em que Beck grava "o quarto do medo". Ele prefere chamar-lhe "o quarto da maldição".No passado dia 12, quando uma multidão (70 mil - muitos deles racistas, dizem os liberais; centenas de milhares, talvez um milhão, dizem os conservadores) encheu Washington para se manifestar contra as recentes políticas da Administração Obama, principalmente contra as anunciadas reformas no sistema de saúde, era o discurso de Glenn Beck, do medo, que ecoava, como lembra a edição da Time , citando uma mulher de 49 anos, do Alabama, que participou nessa concentração. "Só queremos que nos oiçam e que se preocupem connosco", pedia ela enquanto o grupo que integrava erguia 12 letras enormes, feitas em esferovite, que juntas diziam: "Nós amamos Glenn Beck".