Auto-estima das crianças
s livros de auto-ajuda trazem muitas considerações sobre a auto-estima das crianças, com conselhos práticos sobre a maneira de a fortalecer. A banalização deste conceito é a melhor forma de o tornar sem sentido e pouco útil para as tarefas educativas da família.
A auto-estima é a dimensão afectiva do auto-conceito, que pode definir-se como a avaliação que o sujeito faz das diversas dimensões de si próprio. Esta opinião exprime uma atitude de aprovação ou de rejeição e mostra até que ponto uma pessoa se sente com valor e capacidades para enfrentar os problemas do quotidiano.
Embora muitas características da nossa personalidade dependam de factores hereditários, a auto-estima constrói-se ao longo da vida e molda-se pela relação com os outros: percebe-se então o papel decisivo dos adultos na construção da auto-estima das crianças, logo a partir dos primeiros anos de vida.
A investigação tem demonstrado como esses tempos são importantes, embora não exista nenhum determinismo decidido desde o início. Sabe-se hoje que existem crianças sujeitas a situações traumáticas que se mostram capazes de resistir à adversidade e construir um futuro com sucesso, mas é evidente que a construção de uma auto-estima sólida contribui para o bem-estar.
O afecto dos adultos significativos é fundamental. Na deriva autoritária que por aí circula, a apologia do "não" esconde a ausência de respeito pelas crianças: vejo agora a defesa persistente da imposição de limites e sanções aos mais novos, sem que a segurança afectiva esteja garantida. É evidente que se deve evitar o elogio excessivo ou injustificado, bem como devemos fugir da tolerância sem limites - como por vezes se nota em certas famílias com crianças - mas só atingiremos a eficácia das regras educativas se a criança sentir que é amada.
A educação exige frustração e sanção, mas sedimenta-se no amor entre pais e filhos. Há um mundo de diferença entre dizer à criança que não se "portou bem" ou chamar-lhe "menino mau". O valor intrínseco de uma criança não pode ser posto em causa por um erro de conduta, mas pode ser afectado por críticas ou humilhações sistemáticas: interessa, pois, valorizar a pessoa e sancionar o comportamento, sempre que necessário. Os pais estão muitas vezes demasiado centrados na admoestação, porque está na moda não mostrar permissividade excessiva, o que aconteceu de facto nos últimos 20 anos: é bom que saibam, contudo, que a verdadeira autoridade se baseia na construção anterior de uma relação de afecto, respeito e confiança mútuos. Importa portanto valorizar os aspectos positivos dos mais novos, de modo a que estes se sintam com um lugar importante na família, mesmo quando não estão presentes. O elogio deve dirigir-se a acções específicas em que a criança tenha sido protagonista, porque a valorização abstracta não é útil nem reforça a sua auto-estima, porque não perceberá que lhe diz respeito.
Nada disto funciona sem a criança ter a possibilidade de escutar e ser escutada. A sociedade actual, organizada à volta do trabalho e não em redor da dimensão afectiva do relacionamento humano, não facilita esse tempo. Todos concordaremos, contudo, que será pelo menos possível um esforço activo de atenção e compreensão às mensagens de cada um: uma criança sentir-se-á valorizada se for escutada, um adulto será melhor educador se for ouvido com atenção.
Outra dimensão importante diz respeito aos estímulos à autonomia e responsabilidade. A auto-estima sairá reforçada se a criança for capaz de encontrar soluções para os problemas do seu dia-a-dia, mas os pais devem respeitar o ritmo dos seus filhos, com atenção às suas especificidades. Os pais demasiado exigentes, sempre a solicitar aos filhos metas que estão longe das suas possibilidades, podem contribuir para induzir sentimentos de ineficácia que não favorecem a auto-estima. a