FC Porto e Benfica, reis dos empréstimos na Liga portuguesa
Os tetracampeões nacionais cederam onze jogadores, tendo sido o Olhanense o principal beneficiado. Naval e Rio Ave ficaram em branco
a FC Porto, Benfica e Sporting de Braga. Está assim ordenada a tabela de empréstimo de jogadores a equipas da Liga. Estratégia polémica? "O empréstimo de jogadores sempre existiu em Portugal, não tem um ano nem dois, nem dez, mas parece que agora é um problema. E sabe porquê? Porque os outros não têm jogadores para emprestar", disse há tempos Antero Henrique, director-geral da SAD portista.Actualmente, o FC Porto tem onze jogadores cedidos temporariamente a adversários no campeonato nacional. Benítez foi para o Leixões, Bruno Vale será guarda-redes do Belenenses e o Marítimo recrutou Cláudio Pitbull. O Vitória de Setúbal repete a estratégia do ano anterior e aproveita três jogadores (André Pinto, Hélder Barbosa e Ivo Pinto), enquanto o Olhanense de Jorge Costa tem direito a usar em seu proveito Ukra, Ventura, Rabiola, Castro e Tengarrinha.
Motivo suficiente para o presidente do clube algarvio fazer um balanço positivo da política de empréstimos que tem composto o plantel. Para José Isidoro de Sousa, residiu aqui grande parte do êxito desportivo da equipa, que ascendeu esta temporada à Liga principal. "Esta temporada temos cinco jogadores do FC Porto - todos com lugar na selecção de sub-21 -, um do Sporting e, ao contrário do ano passado, não temos nenhum do Benfica. São todos jogadores com qualidade que têm a possibilidade de se mostrarem aqui", sublinha.
O clube não se tem saído mal com esta política, mas pretende criar, a prazo, condições para apostar mais na sua própria formação. "De momento, preferimos esta política a contratar jogadores que impliquem o aumento do tecto salarial", justifica o dirigente.
Do outro lado, numa recente entrevista à agência Lusa, Antero Henrique rejeitou que a verdade desportiva seja desvirtuada com esses empréstimos. Segundo o responsável portista, o clube reduziu em 16 o número de atletas nessa situação. "A nossa estratégia passa por emprestar aqueles jogadores que saem da nossa formação mas que ainda não têm experiência para jogar na primeira equipa. Não é fácil entrar numa equipa de campeões. E a estratégia tem sido um êxito. Mais de 80 por cento dos jogadores cedidos são sub-23 e muitos deles serão campeões no FC Porto, não tenho dúvidas."
No final do mês de Junho, os clubes chegaram a discutir em assembleia geral uma proposta do Benfica (para limitar o empréstimo de jogadores) e outra do FC Porto (no sentido de impor regras de utilização desses mesmos jogadores), mas ambas foram chumbadas, tendo sido criada uma comissão responsável pela análise deste caso ao longo da presente temporada. Entretanto, são 25 os atletas que nas últimas semanas ficaram a saber que vão "rodar" por outros clubes da Liga. Sete têm contrato com o Benfica, quatro com o Braga, actual líder do campeonato.
Quando o barato sai caro
São apenas cinco os clubes que emprestam jogadores a adversários no campeonato - e isto contando já com o Sporting, que apenas cedeu Ronny à União de Leiria, clube que recebeu ainda Kalaba e Stélvio Cruz, do Braga. Este emprestou ainda Mário Felgueiras ao Setúbal, que também aceitou Zoro e Ruben Lima do Benfica, que também cedeu Freddy Adu e Fellipe Bastos ao Belenenses, que, além disso, deu as boas-vindas ao guarda-redes portista Bruno Vale, um clássico dos empréstimos...
O quinto clube é o Nacional, agora sem Bruno Amaro e Miguel Fidalgo, ambos cedidos à Académica. "Tem tudo a ver com as dificuldades económicas que os clubes vivem", disse Manuel Machado sobre "uma realidade que não é nova". "Quem empresta mais são os grandes, com maior capacidade económica e de formação", completa o treinador dos insulares. Os clubes menos influentes "socorrem-se dos empréstimos".
Um bom exemplo dessa teoria é o Leixões, com 16 novos elementos no plantel - mas apenas dois provenientes de clubes da Liga principal -, ou o Rio Ave, que em Janeiro terá salvado a época 2008/09 com a chegada de Yazalde (Braga), Fábio Coentrão (Benfica), Pedro Moutinho (Marítimo), Edson e Candeias (FC Porto). Desta vez, a equipa orientada por Carlos Brito não recebeu ninguém. "Não se proporcionou", explicou ao PÚBLICO Henrique Maia, chefe do departamento de futebol dos vilacondenses. "Valorizamos os nossos", comentou.
Por princípio, clubes como a Naval 1.º de Maio, o Marítimo (aceitou apenas Cléber, brasileiro de 19 anos) ou o Paços de Ferreira não recebem jogadores por empréstimo, preferindo apostar em jogadores provenientes da formação. No Paços a excepção chama-se Coelho (por motivos familiares), jovem cedido pelo Benfica que já passou pelo FC Porto e pelo Inter. Uma das justificações para esse separatismo é o valor dos salários que os jogadores emprestados trazem das equipas de origem. O clube dirigido por Fernando Sequeira, por exemplo, paga salários mensais no valor médio de cinco mil euros, enquanto o salário de um jogador cedido por um grande pode ultrapassar os dez mil euros - isto se o clube de proveniência assumir parte significativa das despesas, comum neste tipo de acordos. com Manuel Mendes e Paulo Curado