Sangue novo e herdeiros vencidos, a classe política japonesa começou a renovar-se
O mais significativo resultado da vitória do PDJ é ter marcado o início do fim das "heranças", filhos ou netos de deputados que "herdam" lugares. No PLD ainda são 43 por cento
a Sangue novo na câmara dos representantes e menos herdeiros das famílias políticas - a vitória da oposição japonesa nas legislativas, que introduziu a alternância e um modelo bipartidário, também permitiu a renovação da sua classe política.O Partido Democrata do Japão (PDJ, de centro-esquerda) conseguiu eleger o maior número de parlamentares na eleição de domingo, pondo fim a um monopólio de 54 anos do Partido Liberal Democrata (PLD, direita) no poder. Muitos caciques do PLD, pilares da câmara baixa do Parlamento há dezenas de anos, foram derrotados por candidatos do PDJ que nunca tinham sido deputados, incluindo muitas mulheres.
Ao todo, haverá 158 estreantes entre os 480 deputados, perto de um terço do total, na contabilidade do diário Yomiuri.
Em Nagasáqui, no Sul, uma candidata dos democratas de 28 anos, Eriko Fukuda, bateu o poderoso antigo ministro da Defesa do PLD, de 68 anos. [Fukuda tornou-se numa espécie de símbolo da própria oposição: tem hepatite C, como muitos japoneses, na sequência do escândalo de sangue contaminado distribuído entre os anos 1970 e 1990, um caso pelo qual a coligação agora derrotada aceitou responsabilidades. A candidata começou por se tornar conhecida pelo processo judicial movido pelas vítimas e esta foi a sua primeira eleição nacional.]
Em Tóquio, uma outra pretendente do PDJ, Ai Aoki, de 44 anos, derrotou Akihiro Ota, de 63 anos, parlamentar experiente do Novo Komeito (budista), um partido aliado do PLD. E até um antigo primeiro-ministro do PLD (1989-1991), Toshiki Kaifu, de 78 anos, foi derrotado no círculo de Aichi, no Centro do país.
Mais mulheres
Em consequência do desfecho destas batalhas que opuseram os "dinossauros" a jovens candidatas, a idade média dos deputados no Japão baixou, apesar de pouco - de 52 anos e quatro meses para apenas 52 anos. E as mulheres, se bem que continuem a ser poucas quando se compara o Japão com outros países desenvolvidos, passam de 43 para 54 - uma subida de 11,25 por cento.
Mas o mais significativo resultado da vitória do PDJ é ter sido o começo do fim para a eleição de "herdeiros", estes filhos ou netos de parlamentares que seguem os passos políticos dos seus antepassados, algo apontado como motivo de esclerose política. A proporção de "filhos de" baixou de quase 30 por cento (27,3 por cento), para 17,3, segundo o jornal Yomiuri, graças à decisão do PDJ de proibir os herdeiros de concorrer na circunscrição familiar.
Jovens deixam PDJ
Também o Partido Liberal Democrata chegou a debater uma proposta idêntica na Primavera, mas teve de colocar a ideia na prateleira, sob pressão de uma parte significativa dos deputados.
"No partido conservador, um jovem que quer fazer carreira política não tem qualquer hipótese, é sempre bloqueado por um dos herdeiros" na circunscrição onde quer apresentar-se, explica Robert Dujarric, director do Instituto de Estudos sobre o Japão Contemporâneo.
Muitos jovens talentosos viraram-se por isso para o PDJ, "o que permitiu rejuvenescer aos poucos os quadros deste partido", nota Dujarric.
A esmagadora derrota do PLD, que passou de 300 para apenas 119 deputados, deixou fora de combate muitos "herdeiros", como Shunichi Suzuki, filho do antigo primeiro-ministro Zenko Suzuki (1980-1982) e Hirotaka Ishihara, um dos filhos do poderoso governador de Tóquio, Shintaro Ishihara.
Em contrapartida, o filho do antigo primeiro-ministro Junichiro Koizumi (2001-2006), Shinjiro, conseguiu fazer-se eleger pela primeira vez no feudo familiar de Kanagawa, a sul de Tóquio.
No total, 43 por cento dos deputados do PLD eleitos no domingo ainda são descendentes de políticos - no caso do PDJ, são menos de nove por cento os descendentes eleitos.
Yukio Hatoyama, o líder dos democratas que será o próximo primeiro-ministro nipónico, é ele próprio membro de uma rica e poderosa dinastia política, o clã Miura, que remonta à era Meiji (1868-1912).
Mas Hatoyama sempre se defendeu de ser um "herdeiro", argumentando que, ao contrário destes, concorre por uma circunscrição que nunca pertenceu à sua família.